segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Antonio Lisboa de Carvalho Filho, o Toinho extrovertido e aventureiro.


Por Mário Alves



Antes de fazer a feira de casa, Antonio Lisboa de Carvalho Filho, conhecido popularmente como Toinho, me concedeu uma entrevista às cinco da tarde de uma sexta feira. Ele havia acabado de chegar da roça no momento que o abordei. Fui muito bem recebido em sua casa, e numa sala aconchegante, aguardei uns cinco minutinhos até começarmos o bate papo.

Toinho, 45 anos de idade e 47 na identidade, nasceu num povoado chamado Itaizinho, há 28 quilômetros de Paulistana no Piauí. Quarto filho de Teonília Emília da Cruz e Antonio Lisboa de Carvalho, ambos agricultores, passou boa parte da sua infância no meio rural. Na época, os bebês do vilarejo nasciam com o auxílio das parteiras, inclusive sua avó, Balbina Maria das Virgens, realizou o parto do seu nascimento.

Sr. Lisboa foi ao cartório da cidade registrar Toinho e mais duas filhas, Teresinha e Francis. Lá, ocorreu algum equívoco, cujo responsável até hoje ninguém sabe ao certo. As três crianças foram registradas com anos diferentes. Aumentaram dois anos para Teresinha, um ano para Francis e dois anos para Toinho. Sr. Lisboa afirma que foi culpa da moça do cartório. O certo é que os três se tornaram mais velhos nos documentos.

Como a vida rural em qualquer lugar pequeno é difícil, não foi diferente com a família de Toinho. Passaram-se seis longos anos vivendo apenas da agricultura familiar, e ele ainda criança, ajudava no que fosse necessário. Levava as vacas ao curral, pegava água nas cacimbas, plantava, enchia os potes de água da casa, fazia realmente de tudo. Até que Teonília e Lisboa, pensando no futuro dos filhos, resolveram morar na cidade (Paulistana) para que eles tivessem uma boa educação.

Na cidade, iniciaram com um restaurante-bar. Com oito anos, Toinho foi crescendo naquele meio, e sempre acompanhava seus pais em praticamente todas as atividades do comércio. A necessidade de vender mais produtos, por causa da procura no estabelecimento, fez com que Sr. Lisboa e D. Teonília ampliassem os negócios e passaram a investir mais ainda no empreendimento.

Fizeram uma quitanda, onde se encontrava quase tudo: ovos de capoeira, leite, queijo, frutas, doces, carnes e pães. Com isso, Toinho seguia os passos dos pais e sempre trabalhava também. Seus pais o acordavam às três da manhã e juntamente com suas irmãs, Francis e Teresinha, colocava as mãos na massa. “Meu pai nos dava coca-cola para nos manter ativos”, (risos) afirma Toinho. Isso, porque o estabelecimento virou padaria também.

Como se não bastasse as atividades comerciais, Sr. Lisboa e D. Teonília tiveram a idéia de fazer da casa um hotel, pois na cidade não existia local para os viajantes passarem a noite. Os hóspedes dormiam, tomavam café da manhã, almoçavam e jantavam sem precisar procurar outro lugar.

Sempre curioso, Toinho observava seu pai dirigindo um opala comodoro e num certo dia um pessoal foi ao restaurante para conseguir alguém para levá-los ao interior, e ele travesso, com nove anos, disse que sabia dirigir, sendo que nunca havia pego um carro, apenas aprendeu olhando seu pai. Até certo local ele dirigiu, mas desligou o carro e não soube religá-lo. Uma das pessoas falou que ele não sabia dirigir e que conduziria o veículo a partir daquele ponto. O rapaz deixou o pessoal no interior e voltou para deixar o traquino em casa.

Seu pai sempre ia ao interior vender pães e comprar as mercadorias para vender na cidade, e nessa prática, Toinho sempre estava por perto. “A cada ida às feiras dos interiores eu ia gostando mais e mais de comercializar”. Ele sempre foi curioso e sempre gostou de desafios. Na cidade, ele passou a engraxar sapatos dos hóspedes do hotel para garantir um dinheirinho extra, e nessas idas e vindas aos interiores, ele plantou a idéia nas crianças para fazerem as caixas de engraxate e a começarem a ganhar dinheiro também. Só que para essas crianças trabalharem, precisavam do material, foi aí onde Toinho esperto, começou a vender as escovas e as tintas a eles.

Na cidade, agora com dez anos, Toinho ao fazer pão, começou a esconder os sacos brancos de farinha de seu pai, que foram utilizados para fazer um pequeno circo. Toinho juntou um grupo de colegas da mesma idade e montou o circo para arrecadar dinheiro e gastar num parque da cidade. Ele e outro colega eram os trapezistas, duas meninas eram dançarinas e ajudavam também no trapézio. Para eles era uma verdadeira diversão. Porém, essa invenção durou cerca de vinte dias, até que seus pais descobriram e bateram nele pelo fato de ter escondido os sacos.

Para continuar a evolução dos estudos dos filhos, Sr. Lisboa e D. Teonília resolveram morar em Petrolina-PE. Sr.Lisboa ao chegar à cidade, comprou um caminhão para trabalhar fazendo frete e conseguiu um trabalho como pedreiro. Toinho passou a trabalhar no caminhão com um motorista habilitado ao lado, enquanto seu pai trabalhava como pedreiro para garantir uma renda extra.

Após muita batalha, resolveram vender o caminhão para comprar uma casa. Assim fizeram, e Toinho passou a ser servente de seu pai, pois Sr. Lisboa havia se dedicado apenas ao ramo da construção civil. Mas não durou muito tempo, venderam umas criações que ainda tinham no Piauí e compraram outro caminhão e Toinho passou a trabalhar numa serralharia e seu pai passou a ser motorista.

Com 16 anos de idade e 18 na identidade, Toinho foi se alistar no exército. Por ter um porte físico desenvolvido e por realmente querer servir, ele foi escolhido. Sua função era motorista das tropas. Realizava muito treinamento físico e ia desenvolvendo ainda mais seu corpo. Num certo dia, ele foi deixar a refeição de uma tropa que estava em treinamento específico, e houve um erro de comunicação da tropa em terra com os soldados que sobrevoavam a área num helicóptero, e esse erro resultou numa rajada de tiros, deixando todos em terra aflitos e desesperados. Toinho correu pela mata adentro e se machucou com os obstáculos. “A rajada de metralhadora vinha de todos os lados, foi um momento de tensão e medo”.

Durante um período de dois anos servindo ao exercito, Toinho passou a se empolgar, com seu corpo atlético, e começou a namorar, e as garotas que antes não lhe davam chances, após esse tempo militar elas que o paqueravam. Foi também através do exercito que ele tirou sua habilitação.

Nessa época, ele ainda concluía o 1° grau na escola e sendo militar, aprontava muitas travessuras. Um dia, ele tirou uma foto com uma cobra e mostrou aos amigos da escola, que o achavam o todo poderoso. E ele então, pegou uma cobra corredeira do exercito e levou para casa numa caixa e no dia seguinte colocou dentro de sua camisa, sem que as pessoas desconfiassem, e soltou no fundo da sala. Começou a aula e num momento a professora gritou: __ Não se mova menino, tem uma cobra atrás de você. Gritou com um aluno da sala. E Toinho com toda coragem do mundo, pegou a cobra e soltou-a no pátio da escola, mas os garotos acabaram matando o animal. Ele ficou conhecido como o garoto corajoso da escola e se tornou mais popular.

Eram diversas travessuras realizadas por Toinho. Como estudava a noite, tinha vezes que ele folgava as lâmpadas dos bocais deixando-as piscando, e ao piscar atrapalhava a aula, forçando os professores a cancelar as atividades do dia.

Ao sair do Exército, trabalhou numa loja de autopeças como cobrador. Realizava o serviço numa bicicleta rodando as cidades de Petrolina e Juazeiro. Mas ele não queria ficar nessa função e almejava ser vendedor. Nos intervalos para o almoço, ao invés de descansar, ficava aprendendo as funções das peças dentro da loja. Não podia ter uma folga que ia limpar as prateleiras das peças e sempre buscava informações com os vendedores.

Aprendeu a vender, comprou um fusca com problemas mecânicos e seu patrão forneceu as peças com uma boa condição para pagar. Ele jovem arrumou o fusca e curtia sua juventude. Ficou sabendo da venda de uns lotes no projeto Nilo Coelho e conversou com seus pais para investirem na agricultura. Sr. Lisboa e D. Teonília aceitaram a proposta e entraram como sócios. Toinho teve que vender o fusca para começar o novo empreendimento.

Começava um novo rumo em sua vida na agricultura. Ele trabalhava na loja de autopeças e nos horários e dias livres ele ia trabalhar na roça. No início foi complicado, investiu muito no tomate e não obteve o resultado esperado na primeira safra. Porém, o sucesso dele era na agricultura mesmo. Ansioso e esperançoso no sucesso da agricultura, ele pediu para sair da loja e se dedicou apenas à roça.

O novo negócio deu certo, Toinho apostou tudo no cultivo da manga, acreditou e com o apoio da família, cresceu comercialmente. Ele plantava, cuidava da roça, colhia as frutas e comercializava na feira. “Foi um período de muito trabalho e muita perseverança”.

Aos 27 anos, Toinho casou-se com Vanúsia Coelho de 16 anos. O processo do casamento teve que ser acelerado porque no ventre de Vanúsia estava Fábio Danilo, seu primogênito. E com amor e união nasceu depois Flávio Lisboa, o caçula.

Por muitos anos ele ia diversificando os negócios foi dono de restaurante, empresário de um cantor, entre outras atividades que não deram muito certo. Mas ele nunca largava a agricultura. Hoje ele continua sendo produtor e comercializa frutas no Vale do São Francisco. É engajado na igreja católica e participa de atividades religiosas juntamente com sua esposa.

Neste ano (2012), seu filho mais velho Fábio lhe deu uma grande satisfação, foi aprovado no vestibular de engenharia civil na Universidade Estadual de Pernambuco (UPE). “É uma grande felicidade ver que meu filho está no caminho certo, engenharia, é uma profissão que admiro bastante”.

Os desafios são encontrados a cada dia, mas o aventureiro Toinho se diz preparado para enfrentá-los com garra, luta, determinação e perseverança, desde que tenha saúde. Guerreiro de grande personalidade, paizão, extrovertido, humano são algumas de suas características.

             
            

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Maninho Guimarães, o ex- comerciante família


Por Raianne Guimarães


Maninho Guimarães falando de família e honestidade.

Em pleno domingo, cheguei na casa de minha avó, D. Osmira e acabei encontrando o meu entrevistado, seu Maninho Guimarães. Quando pergunto se posso bater um papo com ele sobre sua vida, ele não se opõe e começa a relembrar de algumas coisas, mas a nossa conversa oficial foi acontecer na terça-feira, feriado de carnaval.

Marcamos a entrevista na casa de dona Osmira, localizada na Avenida Flaviano Guimarães, avenida que seu Maninho passou boa parte de sua vida e onde manteve um comércio por mais de 40 anos. Resolvi chegar 15 minutos antes do horário marcado para a conversa, que estava prevista para começar às nove da manhã, e assim aconteceu. Trajado com uma calça marrom, camisa de botão, sapatos e óculos, meu perfilado chegara para relembrar momentos bons e ruins de sua vida.

O sétimo dos oito filhos de Antonio Dias Guimarães e Luzia Evangelista Guimarães, Bertolino Alves Guimarães conhecido como seu Maninho, apelido dado pelos irmãos mais velhos, nasceu no dia 2 de junho de 1928, na Fazenda Santa Maria, mas como ele mesmo diz: "só fiz nascer lá, porque sou da Fazenda Flores, em Pilar-Ba".

A infância foi marcada por brincadeiras de gangorra, cavalo de pau, corrida e de cabra cega. Pergunto se ele já chegou a passar fome, ele logo respondeu, "não, não, graças a Deus não. Não éramos ricos, mas uma família de classe média." Sua mamãe era conhecida pela fartura na mesa, aonde quem chegasse sempre era bem recebido.

Maninho saiu da Fazenda Flores em março de 52 em direção a São Paulo, mas precisamente Vila Alpina e depois foi morar em Cubatão. "Na época todo mundo queria ir pra São Paulo, e eu fui", lembra. Trabalhou como servente de pedreiro, na mecânica São Caetano e guarda na Light. Em 57, ele voltou para as Flores e montou um pequeno comércio no povoado de Abóbora. Em maio de 59, casou com Maria Gonçalves Guimarães, dona Quinininha, com quem tem quatro filhos: Solange, Sonileide, Sidneide e Flávio, permanecendo casados até hoje.

Resolveu voltar para São Paulo em 1959, porém ficou desempregado. A partir desse momento, ele percebeu que iria vencer na vida, pois ganhou uma indenização da empresa que trabalhava e resolveu vim em 64, para Juazeiro da Bahia, colocando um comércio na Praça Simões Filho. "No ano de 65 meu irmão (Quintino Alves Guimarães) chegou em Juazeiro e eu deixei o ponto pra ele e aluguei o da Flaviano Guimarães, aonde ficou por aproximadamente 43 anos.

Ele lembra que o comércio da década de 60 e 70 era pequeno, tinha muito aperreio. Teve uma época que o seu comércio fraquejou e ele deixou sua esposa tomando conta e decidiu trabalhar num bar/sorveteria, na Praça Simões Filho em sociedade com Egídio. Trabalhou também como feirante em Juazeiro e na Areia Branca, em Petrolina em 66. Mas, a sua memória nesse momento o engana, "agora eu não me lembro quando foi que eu sai da feira, tem uma base de uns 20 anos, ficando somente no Mercadinho".

Maninho Guimarães ficou conhecido na Flaviano e na Praças Simões Filho devido ao seu comércio. Ele lembra que antigamente era mais fácil para abrir um comércio do que hoje, pois não tinha tantos impostos, indulgências. A pobreza existente nas décadas de 60 e 70, onde seus clientes chegavam na sua venda e pediam a seu Maninho 50 gramas de café, 200 gramas de açúcar e 4 biscoitos sortidos, que faziam sucesso na época, eram constantes. Apesar de ter sido comerciante por mais de quarenta anos ele ressalta: "eu nunca ganhei muito dinheiro, porque perdi muito. Eu vendia fiado e aí foi passando o tempo e fui me segurando mais".

Depois de tantos anos com o comércio, ainda assim ele não estava cansado, mas os seus filhos achavam que ele estava velho e decidiram fechar o mercadinho. "Eu sai com o meu nome limpo, sem dever a ninguém e graças a Deus até hoje não devo".

Atualmente, a Flaviano tem muitos comércios, está muito mais fácil de se comercializar, pois, têm muitas empresas e atacados. "Hoje em dia só não está fácil o imposto, não passa mais nada. De primeiro quando a gente comprava com nota fiscal, quando era da Bahia a gente pagava, mas, quando era dos outros estados, jogava fora a nota fiscal (risos). Mas hoje não, quando chega já é com tarifa tributária".

Tivemos uma pausa na conversa sobre os impostos e começamos a falar sobre a implementação da aposentadoria rural, um dos fatores para que o comércio de Juazeiro alavancasse. Depois desse benefício todo mundo vive bem no interior, tem fogão a gás, que antigamente era a lenha, geladeira, tem liquidificador. E os mais velhos estão ajudando a sustentar os mais novos com o salário da aposentadoria, já que muitos filhos não têm emprego e os pais não querem ver seus filhos com fome.

Seu Maninho relembra que, quando chegou em Juazeiro, não tinha Agrovale, só tinha Prefeitura, os Coelho em Petrolina e o Curtume. Depois, começou o Pingüim, a Agrovale e de uns anos pra cá chegaram os projetos da beira do rio São Francisco e as fazendas de uva e manga, sendo um ganho para a região, onde muita gente foi trabalhar.

-Eu acho que a região não é pobre, vejo todo mundo bem. Sei que tem uns que sofrem mais um pouquinho, mas o que admiro é que a cidade é cheia de carros, né?
-É verdade.
-E quase não se vê um carro velho. Quando não é novo, é semi-novo. Então, o povo está com a vida mais ou menos. Antigamente, tinha pouco carro e só vendia quando não tinha mais jeito mesmo. Teve uma época que eu comprei uma Kombi e vendi depois de doze anos para comprar outro. Hoje não, você compra um carro e depois de um ano já troca por um zero, se perde uma porrada de dinheiro, mas, compra.

Voltando a história de seu Maninho, lembro-lhe que ele é conhecido como “o distribuidor de balas”.
- Por que o seu gosta de distribuir balas?
– Eu toda a vida gostei de brincar com crianças, e quando eu ia lá para as Flores, eu levava um pacote de balas, e fazia galinha gorda para ver menino correr, cair, gosto dessas coisas. Eu gosto de dar cascudo, jogar ovo.
- Jogar ovo? Não me contive e comecei a rir.
- Chegava uns meninos lá na venda e falavam: "seu Maninho eu duvido o senhor jogar um ovo", aí eu ia lá e “pam”, jogava na cabeça deles.

Se alguém perguntar na Avenida Flaviano, quem é Maninho Guimarães as pessoas vão saber quem é? "Sabe, sabe. Bertolino não, mas Maninho Guimarães, Maninho da venda, Maninho de Quininha".

Quando pergunto para ele se definir em uma palavra, o silêncio paira e ele fica reflexivo, e acaba revelando o homem família, que o motiva cada vez mais a querer viver. "Um homem que só quer bem aos filhos, pedir paz aos meus filhos. As coisas estão muito mais fáceis, mas a violência está demais, antigamente não tinha violência, muita gente dormia era nas calçadas". E mais uma vez o comerciante aposentado enfatiza que a sua maior vitória são seus quatro filhos, que, apesar de alguns percalços, conseguiu formar todos.

O homem que morou no depósito da venda, enquanto a casa da Flaviano estava sendo reformada relembra da enchente de 79 em Juazeiro, um momento difícil na sua vida. Ele teve que se mudar de sua casa, na Flaviano, para o bairro Castelo Branco. Para se precaver da chuva fez uma parede na porta do comércio pra ficar bem alto, colocando a mercadoria na casa de uma amiga no Tabuleiro.

O sobrenome Guimarães de seu Maninho tem alguma ligação com a pessoa que dá nome a Avenida Flaviano Guimarães, e ele diz que não. "Eu escutei uma explicação da historiadora Bebela e foi um homem muito bom que esteve aqui e colocaram o nome dele na rua, que era conhecida como rua de baixo, a entrada do Horto Florestal".

Com um olhar expressivo, fala agoniada, o ex-comerciante garante que apesar de alguns momentos difíceis na vida nunca sofreu.
- Graças a Deus!
Em relação a perdas...
-Bom tem o sofrimento da perca de pai, de mãe, mas, o sofrimento de minha pessoa mesmo, de doença não tive.
- Quanta saúde!

Já quanto ao comércio...


- Não tem quem não tenha preocupação, tinha os compromissos, naquele tempo você vendia tudo, e o povo do interior não tinha pagamento, não tinha salário, aí a gente tinha que esperar chover para ver se vendia um garrote, um bode para pagar. Depois eu comecei a vender para ceboleiros, se a safra dava, eles me pagavam, se não dava a gente tinha que esperar para outra safra. Então, nesse período a gente ficava muito aperreado, porque queria ficar com os negócios em dias e não tinha como não se preocupar. Quando uma pessoa não tem muita responsabilidade não se preocupa muito com as coisas não, mas a gente que quer ver tudo direitinho, certinho, se preocupa".

Seu Maninho também é conhecido pelas amizades tanto com adultos, quanto crianças.

– Em primeiro lugar é a honestidade que faz a pessoa, é ser direito.
- Mas a honestidade ainda vale?
- Vale muito pra mim. Muitas vezes chegava vendedor em meu comércio que nunca tinham me visto, e eu falava: "rapaz você vai me vender fiado sem me conhecer?"E o vendedor respondia: "mas já trago seu nome de longe. O nome de direito, de honesto das outras firmas."Eu acho que a honestidade vale muito, é a melhor coisa!

No auge dos seus quase 84 anos, o que refletir da vida daqui para frente..."Eu penso mais no fim da vida, me preocupo muito com a minha cunhada Osmira que já está sofrendo; comigo se Quinininha morrer e eu ficar; se eu morrer e Quininha ficar; com os meus irmãos que já estão sofrendo".

Nessa hora minha avó entra na cozinha e eles começam a relembrar como ela sofreu com a morte de meu avô, e ele diz: "ei, comadre o bom é que nós tivemos sorte com os filhos. E mais uma vez ele ressalta com alegria nos olhos que, "a melhor coisa da vida são os filhos".

Mas, ele tem que ter um defeito e achei.
- Muito agoniado (risos).

Mas, ele garante que nunca teve prejuízo com isso, sempre ganho. "Se eu for para uma missa eu não vou chegar na igreja depois que ela esteja cheia para não ter um lugar para sentar, se eu vou para um almoço, eu não vou chegar lá depois que só tem resto de comida, eu chego logo na frente que é para pegar a comida de primeira".
-Quem anda atrasado sempre perde.

A entrevista toda foi alegre, mas será que ele é o tempo todo alegre? Resolvi questioná-lo.

- O senhor é o tempo todo alegre?
– Não é todo dia que a gente amanhece com a natureza alegre, não.
Tento tirar um sarro dele dizendo que ele não acorda alegre principalmente quando o Flamengo perde, e ele coça o nariz e me diz: "eu, eu não sou muito fanático por futebol não. Uma, que eu estou detestando o futebol masculino brasileiro, porque é o pior que está tendo. Agora o das mulheres eu gosto".

O celular de seu Maninho toca e ele fica receoso de ter atrapalhado a conversa, e eu digo pode atender. Era a sua filha Solange.

A entrevista termina e saímos da cozinha e caminhamos até a sala, onde fomos conversar com um pessoal que estava na casa de minha avó. Depois de alguns minutos, seu Maninho resolve ir embora e o acompanho até a porta, observando os seus passos. Percebo que ele atravessa a rua e senta em um banco da Praça da Flaviano e encontra seus amigos Souza Gato e Chico Carpina.

Hoje, não existe mais o mercadinho de seu Maninho, na Avenida Flaviano Guimarães, nº 173. O ponto é de seu filho Flávio que fez um edifício e, em sua homenagem, denominou Ed. Maninho Guimarães.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Benedita Rodrigues do Nascimento, a Nega do Doce

Por Luciano Lugori
Com 78 anos, Nega ainda faz seus famosos doces
Há dias eu vinha tentando marcar um encontro com Dona Benedita, mas ela só ria e adiava. 
- Deixe para amanhã, me deixe arrumar os cabelos. A sua preocupação era sair bonita na foto. Eita mulher vaidosa! E seguia o seu caminho, ora para a feira, ora para arriscar a sorte no jogo do bicho ou na Loteria Federal. 

Nesse meio tempo, já a encontrei várias vezes, subindo e descendo ruas, mas sem sucesso para conseguir agendar uma entrevista. Até por São Paulo ela já esteve esses dias. Enfim, após o carnaval, em plena quarta-feira de cinzas, pude sentar com ela e bater um bom papo. 

– Para que é isso mesmo?, ela indagava! 

– Hoje você me pegou numa veia boa! E eu comemorei: - Oba, então vamos lá! 


Filha de mãe solteira, Nega do Doce, como é conhecida, carrega no olhar uma vida cheia de sofrimento, a mesma insiste em dizer que aguentou muito e labutou por anos para ajudar a sustentar a família, mas que nunca negou um sorriso a ninguém, sempre foi alegre e prestativa. Ela é “gente boa”, podemos assim defini-la, como se diz na linguagem popular. Perto de completar 80 anos, ela revela coisas da sua vida ‘nada mole’ de lavadeira, agricultora, feirante, doceira e, agora, aposentada. Numa conversa de mais de três horas, finalizada com alguns copos de cerveja, Nega conta suas histórias com o mesmo prazer e dor da época em que as viveu. - São os meus momentos. 

Nasceu Benedita Rodrigues do Nascimento, mas adotou o sobrenome do primeiro marido, Augusto de Oliveira, conhecido como Augusto das Colheres, após um casamento ‘rabo de foguete’. Nega do Doce solta gaitadas ao lembrar-se do caso, “tive que fugir por causa do ciúme dele”. Segundo ela, o tal Augusto, que era um capanga de políticos, “não funcionava direito” e “não dava conta do recado”. Como bem diz o ditado popular, para bom entendedor, meia palavra basta. Nega fala o que quer, não tem papas na língua, é uma pena que sua memória não a deixa contar tudo que sabe, mas o resto, o que lembra, ela não deixa passar nada, fala de tudo sem medo e sem dó, tornando-se numa figura hilariante e ímpar da pequena cidade de Curaçá, na Bahia. 

Nega do Doce é a filha do meio de Exzercina Rodrigues do Nascimento, a primeira doceira da cidade, nasceu em três de abril de 1934, conta que a mãe pediu a benção a Nossa Senhora para ela não nascer no dia primeiro, no dia da mentira. Já nasceu “neguinha”, apelido dado pelo seu irmão mais velho, José Rodrigues do Nascimento, o Zé Padre. Dona Exzercina do Doce teve uma terceira filha, Nelza Marilene, e, ainda, ajudou, juntamente com Nega, a criar uma criança, a recém-nascida Ana Maria da Silva, na época com apenas dois meses, hoje com 50 anos de idade. 

Nega não estudou muito, na sua identidade ela aparece com não alfabetizada, mas com esforço adquiriu uma habilidade em fazer conta na cabeça. – E sou boa de conta! [riso incontido] Começou a negociar cedo, além de ajudar sua mãe fazer doces, também lavava roupas. Por muitos anos foi comerciante na feira. – Eu vendia mingau, bolos, café, petas e verduras. Seus olhos pareciam mergulhar na saudade quando Nega contava suas histórias, mesmo tendo sofrido bastante, aqueles tempos ainda trazem boas recordações. 

E dizia, aliás, insistia. - Eu nunca tive sorte com homens. Nega do Doce lamenta não ter dado certo nos relacionamentos, todos relâmpagos, mas em nenhum momento sente falta de um companheiro. Aliás, ela morre de rir quando o assunto é homem. O primeiro marido, único com casamento oficializado, com o tal Augusto das Colheres, durou pouco mais de um mês; o segundo casório, com José Romão, que trabalhava na empresa São Luiz, durou cerca de dois anos; e o terceiro e último com quem se amancebou, Nega nem lembra o tempo que durou, mas não deve ter sido essas coisas toda não, pois ela sequer lembra mais o nome do dito cujo. - Mas Nega, como é que você esquece o nome de um homem com quem dormiu? [Risos e gargalhadas] - Sei lá! Ela é uma figura. O que ela mais lembra é que ele levou de si, ‘sem avisar’, sua combi de trabalho para Petrolina, em Pernambuco. – Eu mandei buscar, mais menino óia! 

Dona Benedita, quer dizer, Dona Nega, além de ser essa pessoa maravilhosa, marcada por histórias, ficou conhecida pelos seus doces. – Amor e carinho é a minha receita. Quantos não já provaram do seu doce de leite ou aquela cocada enrolada em papel madeira, ou aquele doce em calda que enche a boca de água. Nega sempre ajudou sua mãe a produzir os doces, mesmo realizando atividades paralelas, ela sabia conciliar as coisas, era uma empreendedora, mesmo sem saber. – Já ganhei muito dinheiro. Depois que sua mãe cansou da quentura do fogo, Nega assumiu as tarefas. 

No auge do seu comercio doceiro, Nega revela um acontecido. Vizinhos da sua casa resolveram colocar uma sorveteria. Então, naturalmente, o público consumidor seria dividido. Mas Dona Exzercina e Nega não estavam nem aí para isso, quando o proprietário dos picolés, na época era uma novidade, soltou uma brincadeira com sua mãe. – Eita velha, o doce morreu. E mãe de Nega, toda religiosa, disse: - Morreu não que Deus não dá a cruz a uma pessoa só. Certo que Deus não deixaria o pior acontecer, a velha parecia profetizar, pois a sorveteria não existe mais, quem falou a pérola já partiu para outro mundo, mas os doces ainda continuam ‘vivos’. 

Se tinha (e tem!) uma coisa que tira Nega do sério é perguntar se tem doce de mucunã. Aí ela fica brava. Mas curioso para saber o porquê disso, comecei a instigar e ela, naturalmente, contou como surgiu essa história [mudou logo o semblante]. – Certa vez, tinha na porta de nossa casa, um feixe de lenha, umas frades e algumas mucunãs. Aí passou um ‘engraçadinho’ e perguntou para minha mãe se as mucunãs eram para fazer doce. E isso pegou. Dona Exzercina excomungava quem fosse, bastava fazer tal pergunta. Nega já prendeu várias crianças, a mando de adultos, que se arriscavam a ‘comprar’ o tal doce de mucunã. 

- E não acaba mais não! Preciso ir à Lotérica fazer o jogo de Dione. Calma Nega, só mais um pouco, me conte mais. Já estava inquieta. – Amanhã a gente continua, ele me pedia! Depois disso, Nega resolveu concluir logo. E começou a lembrar um pouco da sua juventude e revelar o quanto gostava de dançar e flertar. - Não namorava muito, mas namorava. Quem manda ser bom! [caímos na risada]. Troca Tapas, Estrela do Norte e a Sociedade dos Vaqueiros eram os locais que ela freqüentava por ouvir o som da sanfona de Izaltino e Bombone. Nega não tem jeito. Para quem não tinha mais nada a revelar, ainda contou foi coisas. 

Do pouco tempo que estudou, Nega lembra-se da brincadeira em soletrar as palavras. O professor Vivaldo Xavier perguntava: be a bá, de a dá, le o ló. Nega imediatamente escancarava. – É aquilo que tem embaixo do jegue e que balança. Nega do Doce é assim, fala mesmo! Ela é bem divertida e gosta de compartilhar sua alegria com os amigos, mas não esconde o cansaço. Afinal de contas, já são 78 anos nas coxas. Ela agora passa um bom tempo da sua aposentaria viajando pelas bandas de São Paulo. 

E quem pensar que os doces estão ‘morrendo’, se engana. Como a sua mãe, Nega também adotou uma criança, a quem deu o mesmo nome de sua irmã que faleceu tempos atrás. - É ela agora a responsável pela produção dos doces, mas ainda faço doce em calda de vez em quando. É uma geração de doceiras, uma receita quase centenária que adoça a boca de muitas pessoas. 

- Agora terminou né?! Agora sim! Se faltar algo lhe procuro novamente. – Pode ser amanhã se você quiser. Nega do Doce sempre arruma um tempo para atender as pessoas. Percebi a agonia dela para fazer seus afazeres, ainda assim, pedi permissão para ler os dois primeiros parágrafos, pré-produzidos, durante a entrevista. Com atenção, ela escuta, concorda e ri sem parar. – Mais menino óia! Essa era o sinal de afirmação de Nega que eu precisava. Ela, por si só, é um doce de pessoa.



O futebol amador no Vale do São Francisco

Um passado de triunfos, um presente com pouco prestígio e um futuro incerto. O futebol amador nas cidades de Juazeiro, Petrolina e Curaçá pode está com os dias contados.



Por Luciano Lugori, Raianne Guimarães e Mário Alves (T)



Time do Veneza de1956, onde atuou Paulo Mandinga


Campos de várzea, futebol amador charmoso que envolvia o público e os jogadores, assim, eram as tardes de domingo na cidade de Juazeiro da Bahia nas décadas de 1920 até início dos anos 1990. O futebol é tido como cultura, pois consegue unir inúmeros povos, oferece alegria, paixão e possui uma vertente social, representando a identidade de uma nação!


Juazeirenses que viveram na cidade de Juazeiro nesse período relembram com saudosismo a grandiosidade que era a prática do futebol amador na região baiana. Celeiro de craques, o futebol alcançou dimensão no cenário nacional durante o decorrer dos anos.

Não se sabe ao certo a origem do futebol, mas acredita-se que tenha surgido em 1863 na cidade de Ashbourne na Inglaterra, praticado pela classe operária no horário livre ao trabalho, conquista do movimento operário sindical. No Brasil, Charles Miller - paulistano do Brás - foi morar na Inglaterra e, ao retornar ao seu país de origem em 1894, trouxe a primeira bola e regras futebolísticas para esse.

Em Juazeiro quem trouxe a primeira bola foi o juazeirense Adolfo Bonfim, nascendo assim o futebol na cidade entre 1915 e 1920. Eram poucas as opções de lazer, por exemplo, não existia cinema, então a prática do futebol amador era uma busca pela diversão no fim de semana, pois os jogos eram realizados no domingo. A cidade em dia de jogo ficava mobilizada, era realmente um espetáculo esportivo, com direito a torcida organizada feminina.

Em 1919 não havia a organização das agremiações, mas já existia o primeiro seleto de jogadores, tratava-se do Veneza Foot-Ball Club. “Um pessoal que veio de uma fazenda chamada Veneza que existe em Curaçá, cujo espaço ficava alagado quando chovia, se instalou em Juazeiro, e quando choveu na terra das Carrancas, alguém gritou a Veneza. Daí a explicação da origem do nome do time”, lembra o pedagogo e radialista Toni Martins.

Times como Castro Alves, Associação Atlética Juazeirense, Bahiano também iniciaram a prática do futebol amador na cidade. Depois surgiram Olaria e América, entre tantos que alegravam os juazeirenses e toda a região. Jogadores como Caboclinho, Padeirinho, Artur Lima, Dozinho eram considerados craques.


A formação da Liga Desportiva Juazeirense

Para organizar os clubes e cadastrar jogadores de futebol amador criou-se a Liga Desportiva Juazeirense (LDJ), em 28 de março de 1923. A LDJ ficou responsável por promover campeonatos municipais e intermunicipais, onde equipes de Curaçá e Petrolina participavam. José de Meira Cabral foi o primeiro presidente da LDJ e João Meirelles de Souza o vice. Nomes como professor Agostinho José Muniz e Olegário de Assis também formaram a primeira diretoria.

Prestes a completar 89 anos, a LDJ tinha como objetivo o incentivo à prática da educação física e aperfeiçoamento estético dos jovens, conforme prevê ata de fundação. Tinha uma ligação direta com a Federação Baiana de Futebol, para os mais íntimos FBF, fazendo com que os melhores árbitros de futebol de Salvador apitassem em Juazeiro. A LDJ era vista como uma das ligas mais bem organizadas dentro da FBF. Os campeonatos existentes na época eram o interno da Liga, o intermunicipal e tinha o BaPe, os melhores times de Juazeiro contra os melhores times de Petrolina e era casa cheia nos estádios das duas cidades.

As competições do futebol amador eram divididas em duas categorias: o primeiro e o segundo quadro. O primeiro quadro era para aproveitar aqueles jogadores novos que vinham do segundo, funcionava como time de base para a primeira categoria, já que jogadores mais jovens jogavam nessa divisão. Os jogos eram realizados nos campos de várzea do XV de Novembro, da Leste em Piranga, no campo do Morrão no Castelo Branco (hoje praticamente não existem mais esses campos), até a construção do Estádio Adauto Moraes.

A LDJ era organizada e auto-sustentável. Segundo o ex-jogador e ex-presidente da Liga Paulo Santana, mais conhecido como Paulo Mandinga, a entidade tinha tanto dinheiro que um presidente andava com talões de cheques distribuindo para o povo.

Quem acreditaria que uma cidade do interior da Bahia poderia trazer o presidente da Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA), João Havelange? Pois é, a Liga Desportiva de Juazeiro conseguiu trazê-lo em 1977, devido à importância do futebol amador da cidade. Vasco da Gama, Flamengo e Botafogo também estiveram no município para jogar contra os times amadores de Juazeiro.

A LDJ bancava essas competições e a Prefeitura só dava a cada time um jogo de camisas e par de chuteiras no início dos torneios. A renda da bilheteria era da Liga, mas os clubes também tinham participação no lucro, mantidos por empresários amantes do futebol e pela torcida. “Naquela época existia muitos empresários, como Zé Gomes, Lulu, grandes torcedores que ajudavam os clubes de Juazeiro, como o Olaria, Veneza, Carranca. E isso formavam grandes equipes”, diz Silvandro Ribeiro, ex-jogador do Veneza.

Antigamente por ser amador, os jogadores não recebiam salário, o que existia era um contrato feito pela Liga. O atleta poderia até ganhar dinheiro, mas sem ser oficializado. Era uma época em que o futebol amador passou a ser uma espécie de profissionalismo e "amador marrom", porque muito jogador tinha contrato de gaveta com os times, ou seja, recebiam dinheiro dos donos das empresas, mas sem fazer muito alarde. Muitos atletas trabalhavam nas empresas que mantinham os clubes, então, eram funcionários durante a semana e jogadores durante o domingo.

A decadência da LDJ

Os anos passaram e os louros também, conflitos e ostracismo tomaram conta do futebol amador. No final da década de 90 e início dos anos 2000, a LDJ foi gerida por Antônio Barbosa, o Baé, e a entidade passou por crises financeiras.

Depois de Baé, quem ocupou o cargo foi Francisco José, que administrava o Estádio Adauto Moraes ao mesmo tempo em que geria a LDJ. Ele foi destituído do cargo pelo desporto, presidentes dos clubes federados à Liga, que não concordaram que um gestor da LDJ gerisse também o Estádio. Atualmente, a LDJ para a Federação não existe mais. A decadência da Liga, o surgimento de novos esportes, a falta de interesse público, da mídia, do empresariado e da população, sem contar no surgimento do profissionalismo, fizeram com que o futebol amador desaparecesse do cenário das conversas dos finais de semana em barzinhos, apesar de ainda serem realizadas competições amadoras.

Nos dias atuais, a Prefeitura Municipal assumiu a responsabilidade para a prática do futebol amador e o utiliza como uma ferramenta para que os jovens possam fugir das drogas, formar cidadãos e atletas. De acordo com Gilberto Pacheco, gerente de esportes de Juazeiro, o futebol amador é uma forma de integração e inserção social, gerando emprego e renda. E além disso, é um direito constitucional para assegurar o lazer, a prática esportiva e a promoção da saúde do cidadão.

Os campeonatos existentes hoje são a Liga Principal, campeonato amador onde participam oito clubes filiados a LDJ, o Campeonato Distrital, que ocorre com os oito distritos da cidade e o Campeonato Interbairros, uma competição entre os bairros da cidade. Em 2011, o campeão do Interbairros foi o Alto do Cruzeiro e do Distrital foi à seleção de Itamotinga. Atualmente, Veneza, Olaria, XV de Novembro, Carranca, Juazeiro, Barro Vermelho, América e Colonial fazem parte da LDJ.

Porém, essa prática não empolga mais tanto o juazeirense acostumado ao brilho do futebol amador de outrora. Mas, de acordo com Charles Leal, presidente do Veneza, que ainda comparece a todos os jogos da equipe, existe um sentimento de realização quando vê o seu time e os outros amadores em campo. Porém, segundo ele falta ajuda da Prefeitura, pois os presidentes dos times têm que ficar mendigando para os clubes continuarem existindo. Ele ressalta ainda que o direito constitucional não é cumprido na íntegra.

A transição do amador para o profissional

“Hoje o futebol de Juazeiro amador acabou! Ele foi forte até os anos 90, quando entrou de 95 para cá caiu de vez”, desabafa Paulo Mandinga. Apesar de se ter ainda a prática do futebol amador sub 17 e principal, essa modalidade nos dias atuais não representa mais a áurea época de Padeirinho e Caboclinho, pois não tem alegria, nem a mesma efervescência do torcedor que ia para o Estádio Adauto Moraes.

“Tivemos uma época de ouro no futebol amador de Juazeiro. A equipe do Bahia vinha aqui e apanhava, Vitória vinha aqui e apanhava. Aqui, começaram a surgir grandes jogadores e, diante disso, começou a se pensar lá fora no grande interesse dos jogadores de Juazeiro, então, começou a surgir a ideia de fazer um time profissional”, relembra Mandinga. Muitos jogadores saíram do amador de Juazeiro para despontar em times da capital baiana, e todo o Brasil. Alfredo Futuca foi jogar no Bahia, Louro foi para o Galícia, Luiz Pereira foi para o São Bento de Sorocaba, Nunes foi jogar no Flamengo e tantos outros.

O futebol amador não tinha mais como escapar do profissionalismo, pois o Brasil, aos poucos, ia descobrindo que a terra às margens do Rio São Francisco poderia oferecer muito mais, já que há décadas a cidade revelava jogadores de qualidade e o faz até hoje (com menos frequência), porém com um caráter lucrativo. Nixon Darlanio, que está no Flamengo do Rio de Janeiro, e Jean Almeida, que foi para o time paulista Corinthians, são as mais novas promessas saídas do celeiro de craques juazeirenses.

Se antes o simples trabalhador que jogava por prazer e diversão passou a ser um produto do futebol, quem diria que o jogador de futebol se tornaria um profissional da bola? Pois, isso aconteceu. Os times América, Barro Vermelho, Carranca, Colonial, Grêmio, Olaria, XV de Novembro e Veneza formaram em 16 de agosto de 1995 o primeiro time profissional da cidade, o Juazeiro Social Clube.

Com o profissionalismo, o público tem prestigiado mais o futebol profissional do que o amador, com exceção da equipe do Colonial de Maniçoba que desde 1998 sempre coloca 1.500 a 2.000 torcedores em finais de campeonatos. A falta de investimentos para incentivar a população a ir ao Adauto Moraes assistir o futebol amador está fazendo com que as equipes dessa prática não recebam praticamente nada pelos jogos.

“Quem mantém as equipes amadoras hoje é o poder público, e quando tira toda a despesa do jogo: gandula, árbitro, o rapaz da administração do Estádio a gente não fica com praticamente nada. Para se ter uma ideia tem arrecadações que a gente fica com vinte reais”, afirma Alfredo Gonçalves, presidente do XV de Novembro.

Outro motivo que fez com que o futebol amador fosse desvalorizado é que, com a ascensão do profissionalismo, os jogadores preferem ir para um time em que ele receba salário ou uma ajuda de custos do que participar de uma competição amadora.

O profissional de Juazeiro surgiu do amador e foi para o profissional sem custo nenhum para o time de origem. Alfredo Gonçalves diz ainda, que, atualmente, os dirigentes dos clubes amadores buscam uma forma dentro da lei para que possa registrar esses meninos e, quando eles forem para outro clube, a associação amadora possa receber uma parte da venda, mas isso a lei ainda não permite. A Liga cadastra, porém, esse jogador não fica atrelado ao clube.

Para que o futebol amador seja mais praticado e o público volte a se encantar, teria que ter mais campos disponíveis e adequados para treinos dos clubes profissionais e porque não amadores. Uma maior organização, incentivo moral e financeiro da Prefeitura, dos empresários e da população, pois nem tudo é de responsabilidade do setor público também deveriam ser pensados. “A questão financeira dos clubes e da própria Liga é o principal motivo para não se realizar um número maior de campeonatos”, alerta Josival Barbosa, presidente da LDJ.

O futebol amador poderia ser uma base maior para os times profissionais, para que cada vez mais apareçam bons jogadores. Para isso acontecer, as competições amadoras devem diminuir a categoria de sub 17 para sub 12 ou 15, já que de acordo com Janílson Britto, auxiliar técnico do Juazeiro Social Clube e ex-jogador amador e profissional, tem surgido muito pouco jogador vindo da base.


Joacir Oliveira venceu a eleição presidencial da LDJ no dia 15 de fevereiro, para tentar modificar o cenário de “esquecimento” em que se encontra o futebol amador de Juazeiro.


Por onde andam os craques do futebol amador?



Bartolomeu Britto Monteiro, o popular Caboclinho
O futebol juazeirense ficou mais triste, pois morreu no dia 19 de Janeiro, aos 78 anos, Caboclinho, um dos maiores craques considerados pelos torcedores que o viram jogar. Com passagens pelo América de Petrolina, Olaria, Veneza, Fluísco, seleção de Juazeiro e depois como treinador do Carranca, Caboclinho fez história no futebol amador da cidade. Bartolomeu Brito Monteiro, seu nome de batismo, começou a jogar em 1945 com 12 anos e foi campeão com essa idade. Aposentado pela Companhia de Navegação do São Francisco, empresa que o fazia jogar no time do Olaria, ele acreditava que faltava base no futebol profissional, e por isso que os times da cidade não tinham consistência nos campeonatos. Foi como treinador que Caboclinho teve uma de suas maiores glórias, pois o lateral juazeirense Daniel Alves passou por sua escolinha e se tornou um ídolo mundialmente conhecido. Muitos juazeirenses também devem sentir saudades de ver em campo José Pereira de Lima ou simplesmente Padeirinho. Ele começou sua carreira com 17 anos em 1937, e jogou até 71. Atuou contra o Vitória, Bahia e Galícia. Para Padeirinho a época mais esplendorosa do futebol amador foi de 39 a 42 com Veneza e Olaria. Este foi o time que ele mais atuou, sendo tricampeão nos anos de 56, 57 e 58. “Naquele tempo os jogadores eram melhores do que hoje”, afirma Padeirinho no auge dos seus 94 anos. Na reinauguração do Estádio Adauto Moraes, em 14 de Janeiro de 2012, eles deixaram as marcas de seus pés na “calçada dos craques”, ficando eternizados no Estádio.





O futebol amador em Petrolina

CaianoEsporte Club de Petrolina (década de 60)

O futebol em Petrolina no final da década de 40 era bastante praticado nos bairros, muitos torneios eram realizados e cada time possuía sua torcida apaixonada. Como esses campeonatos tornavam-se cada vez mais disputados e atraíam muitos torcedores aos jogos, sentiu-se a necessidade de criar uma instituição que pudesse organizar o futebol amador na cidade. Nasceu, assim, a Liga Desportiva Petrolinense (LDP) em 1948, onde Januário Alves, arrebatado pelo futebol foi o fundador. A Liga teve um papel importante para a difusão do esporte.

Com a entidade, os times filiavam-se para garantir o direito de participar do campeonato amador. Palmeiras Esporte Clube, equipe mais antiga da cidade e fundada em 1949, América Futebol Clube, Caiano Sport Clube, Ferroviária Esporte Clube, Náutico Esporte Clube, 1º de Maio Esporte Clube, Petrolina Social Futebol Clube travaram grandes duelos nos campeonatos.


No município não se praticavam outros esportes e por ser tão popular, o futebol era umas das principais atrações da cidade. O ex-jogador da década de 60, Ederaldo Barbosa, conhecido por Dedé das Pedrinhas, relembra como as pessoas reagiam em época de campeonato. “A cidade respirava futebol no sábado, domingo e na segunda. A Praça Dom Malan era o nosso ponto de discussão sobre futebol”, acrescenta Dedé.

Antes da construção do estádio Paulo Coelho, os jogos amadores eram realizados no campo do colégio Dom Bosco. A cada ano, a rivalidade aumentava ainda mais. Os torcedores eram fiéis e apaixonados pelos seus times. Em dia de clássico, a cidade praticamente parava. Amantes do bom futebol, imprensa e empresários se amontoavam para garantir seu lugar no campo. Mesmo em dia que não era clássico, os torcedores de outras equipes assistiam às partidas, pois, segundo o atual Presidente da LDP e ex-jogador, Luciano Alves, “o futebol era tão bonito de ser assistido que valia a pena a gente sair de casa para ver qualquer jogo”.

Os times amadores da cidade possuíam uma estrutura aproximada dos times profissionais de hoje. Treinavam, se concentravam, recebiam gratificações, tudo pelo amor que o esporte oferecia. Todos os jogadores tinham como o futebol uma forma de renda extra, mas com amor e diversão em primeiro plano. As empresas que tinham jogadores como funcionários os liberavam mais cedo para os treinamentos e concentrações.

Por muito tempo, a Liga organizou campeonatos amadores, mas, nas décadas de 80 e 90, a safra de jogadores teve maior destaque no cenário nacional e mundial. Os atletas tinham mais visibilidade e eram contratados pelos clubes profissionais. Com o passar do tempo, o profissionalismo acabou se instalando no lugar do futebol amador e os torcedores passavam a freqüentar menos o estádio. “Sem dúvida o profissionalismo tomou o brilho e a paixão do futebol na região”, afirma o presidente da LDP.

Hoje com o avanço desenfreado das contratações futebolísticas, os campeonatos amadores passam por uma grande crise. Segundo Alves, os atletas da atualidade esqueceram do amor pelo futebol e passaram a pensar primeiramente na parte financeira. “Acabou a época da paixão pelo esporte mais popular do Brasil, o dinheiro subiu para a cabeça dos nossos jogadores”, ressalta o presidente.

Após seis anos sem haver o campeonato amador em Petrolina, a LDP buscou resgatar a história dos grandes clubes. Em 2011, dois times tradicionais disputaram a final do torneio, onde o Palmeiras se sagrou campeão e o Caiano vice. Os jogos aconteceram no estádio Paulo Coelho, e mesmo sem a cobrança do ingresso os torcedores não freqüentaram as partidas como nas décadas passadas.


O futebol amador já foi a principal atração na cidade petrolinense. Se algo não for feito para que ele volte a ser novamente uma tradição, talvez a bela história que esse esporte trilhou passe a ficar apenas na memória daqueles que o vivenciaram.

Curaçá Futebol Clube: breve histórico do esporte na cidade


O futebol em Curaçá existe há muitos anos, no entanto, a precariedade de informações e escassez de registros fez com que a história do esporte na cidade seja ainda uma página em branco, ou, apenas alguns rabiscos em atas que resistiram ao tempo. O professor Paulo Cezar Dias Torres afirma que o desporto chegou à cidade através do seu pai, Durval dos Santos Torres, conhecido como Durval Gato, que nos idos dos anos 30 participou da fundação times tradicionais de Juazeiro. “Durval foi um dos responsáveis pelo nascimento do futebol aqui na cidade, deu idéias e ajudar a formar clubes. Uma prova disso e de reconhecimento do seu esforço é o que Estádio Municipal leva o seu nome”, conta Paulo Cézar.

Durante anos, o futebol ainda engatinhava em terras curaçaenses e somente no final dos anos 50 e início dos anos 60 começou a se firmar como uma realidade com o surgimento de times de maneira mais organizada, com destaque para as equipes do Cruzeiro e do Independente, que além de jogar entre si, disputavam partidas em cidades vizinhas, como Uauá e Santa Maria da Boa Vista. Um dos registros fotográficos é do esquadrão do antigo Ginásio Municipal de Curaçá, de 1964. “O time do colégio era muito forte, tinha grandes atletas e chegou a jogar vários amistosos contra times de outros municípios”, revela Bendito Franco de Andrade, popular Dito de Joatan.
Primeiro time do GinásioMunicipal de Curaçá em 1964

No ano de 1967, foi realizada uma reunião com atletas e dirigentes a fim de restaurar a então Liga Desportiva Municipal de Curaçá (LDMC) que logo passou a ser denominada Liga Esportiva Curaçaense (LEC). A preocupação para tal organização era justificada pelo avanço e maior valorização do futebol na cidade. Nos anos 70, houve um aumento do número de times, o que despertou interesse da Liga em organizar as disputas em forma de torneios e campeonatos. Vasco, Flameguinho, Nacional, Santos, Internacional e Bahia eram os clubes que figuravam no cenário do futebol amador Curaçaense.

Na década de 80 a rivalidade e as disputas estavam cada vez mais acirradas. Clubes iam surgindo, torcidas se organizavam e se amontoavam à beira do campo para torcer e vibrar com as grandes jogadas e belos gols. Os campeonatos eram mais competitivos, as taças e troféus bem mais cobiçados. Cobreloa, Bambuí, Catauense, Botafogo, e tantos outros times, fizeram parte de uma década cheia de emoção. Nos anos 90, começou o declínio do esporte na cidade. O envelhecimento daqueles que iniciaram a história curaçaense e morte de alguns jogadores parece, parece ter adormecido a esperança da continuidade e alegria dos velhos campeonatos.

Os últimos dez anos serviram para apagar o brilho do futebol amador na cidade. A falta de organização da Liga Desportiva Curaçaense, a atual LDC, a falta de incentivo e de políticas públicas municipais voltadas para o esporte fizeram com que o campeonato deixasse de ser organizado. Em conseqüência disso, clubes tradicionais perderam a vontade de competir, muitos sequer existem mais, lideranças esportivas mergulharam na falta de interesse. Muitos atletas atribuem a culpa ao governo municipal que abandonou o Estádio Municipal e o entregou ao descaso. “Desde o ano de 2007 não houve mais uma preocupação para organizar competições, isto porque o Estádio entrou em numa reforma que até hoje não foi concluída”, lamenta Miranda Alves Nunes, atleta que atuou por diversos clubes.



Copa Anísio Pinheiro: integração do futebol intermunicipal


Carteirinha de identificação dos atletas
Em 1997, o presidente da Liga Desportiva Juazeirense, Carlos Humberto, teve a ideia de organizar um campeonato que envolvesse clubes baianos das cidades vizinhas Curaçá, Juazeiro, Uauá, Sento Sé e Petrolina, de Pernambuco. Depois de alguns meses reunindo-se com os dirigentes locais para discutir a forma da disputa, regulamentos, cadastro de clubes e atletas, o torneio acabou acontecendo no segundo semestre. Como a intenção era integrar as Ligas, as partidas aconteceram no sistema de ida e volta, com jogos em todas as cidades participantes. A final na copa aconteceu no dia 2 novembro de 1997 tendo se sagrado campeã a equipe do Barro Vermelho. A escolha do nome: Anísio Pinheiro foi um esportista juazeirense que prestou inúmeros serviços a Liga Desportiva Juazeirense (LDJ), tendo seu nome ligado à história do esporte em Juazeiro. De sua família originaram diversos jogadores que se destacaram no cenário futebolístico da Bahia, cita-se o exemplo de Louro, que saiu da cidade para atuar no Galícia, time da capital baiana. O torneio foi organizado pela LDJ com apoio de comerciantes locais e existiu em edição única.




quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Lixo eletrônico e os danos causados ao meio ambiente

Na cidade de Juazeiro falta pontos de coleta de lixo eletrônico e discutir sobre o assunto 


                                                                                                                                                      Por Raianne Guimarães (T) e (F)
                                                                                                                         
Televisores, rádios, computadores e até carros são jogados nas ruas e calçadas da cidade de Juazeiro da Bahia, como se fossem lixo comum. Este tem sido o destino do chamado Lixo eletrônico ou tecnológico, que pode causar danos ao meio ambiente, se não forem reutilizados ou até mesmo depositados em locais apropriados. Hoje, os resíduos eletrônicos representam 5% de todo o lixo produzido pela humanidade. Isso quer dizer que, 50 milhões de toneladas são jogadas fora todos os anos pela população do mundo. 



Descartados em lixões, como o que acontece em Juazeiro, alguns trazem em sua composição metais pesados tóxicos como mercúrio, cádmio, berílio e chumbo, provocando contaminação do solo e da água, por não serem biodegradáveis. Cada vez que se joga fora um equipamento, seja um computador ou um celular, descarta-se toda a matéria-prima, a água, a energia e o trabalho gastos na sua produção. No Brasil, 60% do lixo coletado não têm destinação correta, ou seja, são encaminhados para os lixões. 


Na cidade baiana não há empresas, Organizações Não Governamentais, cooperativas que recolhem e tratem esses materiais na cidade. Na prática, o descarte é tratado como lixo comum. Gráficas, eletrônicas procuram reaproveitar as peças de algum eletrônico velho ou quebrado. Porém, diante da falta de postos para a coleta, os objetos são jogados em terrenos. “Teve um dia que joguei uma máquina, que não tinha mais serventia, em um terreno baldio atrás da gráfica”, diz Micael Benaia, proprietário de gráfica em Juazeiro. 

De acordo com Edílson Coelho, especialista em Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Regional de Juazeiro (Inema), na cidade de Juazeiro não existe uma fiscalização sobre o lixo eletrônico que é depositado com o residual. “O correto seria o resíduo retornar para as fábricas”, diz o especialista referindo-se ao lixo eletrônico. 

Em um banco da Praça Simões Filho, descansando até retornar ao trabalho, Raimundo Benedito, que trabalha como gari de Juazeiro, conta que vê muito lixo eletrônico nas ruas, sendo mais comum a televisão. Esta semana, ele encontrou na rua dois televisores, que estavam quebrados. “A gente vê muito lixo (eletrônico) para o carro de lixo pegar. Aí, o pessoal da coleta apanha o lixo, joga no carro, prensa e depois descarrega no lixão. Tem uns televisores que se aproveitam alguma coisa para vender: o cobre, mas outras não têm mais nada que preste”, diz. 


Política Nacional dos Resíduos Sólidos 

Considerando os impactos negativos causados ao meio ambiente pelo descarte inadequado desse lixo eletrônico e outros resíduos, foi aprovada no ano passado a Lei Nº 12.305, chamada de Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), sendo necessário disciplinar o descarte, gerenciamento ambiental, reutilização, reciclagem, tratamento ou disposição final. De acordo com a PNRS, é de responsabilidade dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, consumidores e as diferentes esferas do poder público, fiscalizar o descarte do lixo eletrônico. 

A Lei Nº 12.305 ainda é pouco atuante na cidade de Juazeiro. Apesar de ser Lei Federal, os municípios terão de adaptar à Política de Resíduos Sólidos à sua região, proibindo os lixões e o descarte de resíduos que possam ser reciclados ou reutilizados. Porém, o prazo para adequar-se à lei é até 2014. Caso não seja implementadas as medidas, os municípios deixarão de receber incentivos fiscais. 

Desde o ano passado, reuniões foram feitas entre Juazeiro, Pilão Arcado, Sento Sé e regiões para que estes municípios tenham seus resíduos gerenciados em forma de consórcio, ou seja, o órgão passa as atribuições para os municípios. Para Josefa Galdino, supervisora de Núcleo de Licenciamento Ambiental da Secretária de Agricultura, Desenvolvimento Rural e Meio Ambiente (Seadruma), “A lei dos Resíduos Sólidos contempla em parte na cidade, mas, para que esta lei exerça sua função jurídica é necessário ações, como implantações da coleta seletiva, construção de aterro sanitário, o emprego da logística reversa”. 


Empresas de Juazeiro praticam a Lei dos Resíduos Sólidos 

Ao contrário do Município, algumas empresas já estão com medidas de recolhimento do lixo eletrônico. Uma empresa de energia de Juazeiro em parceria com a Neoenergia desenvolve o projeto “Nova Geladeira”, onde são doados refrigeradores a moradores de baixa renda, que repassam para a empresa suas geladeiras antigas. Além de reduzir a conta de energia dos usuários (uma geladeira em mau estado de conservação pode ser responsável por até 70% do valor da conta de energia), faz-se o destino adequado ao eletrônico, contribuindo para a não degradação do meio ambiente. O Brasil é o líder entre os emergentes, ao lado da China, em despejar geladeiras. Em números absolutos, seriam 115 mil toneladas no Brasil, contra 495 mil na China. 

“O gás Clorofluorcarbono (CFC-12) das geladeiras antigas é retirado por empresas especializadas para o descarte ambientalmente correto, e, os plásticos e metais das carcaças são reciclados. A verba apurada na venda destes materiais é direcionada para programas de ação social da Empresa”, afirma Eduardo Almeida, engenheiro elétrico da empresa e representante ambiental na Região Norte do Estado. 



Outra experiência de recolhimento do lixo eletrônico são as urnas de coleta de aparelho celular. Na cidade de Juazeiro, as operadoras de celulares e revendedoras autorizadas disponibilizam urnas para coletar celulares obsoletos. Segundo Obede Moraes, gerente de loja de uma operadora, não são as operadoras que fazem o destino do objeto, e sim as empresas que fabricam o celular, porém, não existe uma periodicidade para a coleta deles. Entrarão no mercado anualmente mais 80 milhões de celulares, mas somente 2% serão descartados de forma correta. Os outros 98% serão simplesmente guardados em casa ou despejados no lixo comum. 

“O cidadão por sua vez não cobra aos meios tecnológicos responsáveis pelo serviço, ela própria não se incomoda em jogar no lixo. O brasileiro por natureza, não é cobrador. Nós (brasileiros) ainda temos uma cultura onde se cospe no meio da rua, joga resto de cigarro no logradouro. Nossa parte a gente faz, a gente recolhe, e só está aguardando agora a coleta”, conclui o gerente. 


José Vieira trabalhando em sua eletrônica. Onde se encontra os mais diversos tipos de resíduos.

Enquanto o poder público não implanta a coleta seletiva, os materiais podem ter valor comercial, e serem reaproveitados em outros equipamentos. José Vieira, técnico em eletrotécnica, recebe de 50 a 60 aparelhos para consertar, e muitos donos acabam deixando lá. Para ele, a população é muito consumista, o que tem contribuído para aumentar a quantidade de lixo eletrônico. “Quando chega aqui já vai logo dizendo: dê só uma olhadinha, porque se não já vou logo comprar outro. Um dia um menino achou uma televisão na rua e trouxe para eu ver. Troquei a tomada que estava cortada e fiz uma pequena manutenção, e hoje o garoto está usando”, conta o técnico. 

Com o crescimento da tecnologia nas últimas décadas, agregou-se à sociedade o poder do consumismo, sem refletir nos danos causados ao meio ambiente. Para evitar prejuízos ambientais, o juazeirense deve pensar como educar-se em não jogar eletrônicos na rua, procurar os postos que existem de coletas, cobrar mais do poder público, e esperar a conclusão do aterro sanitário em fase de construção para que materiais não biodegradáveis não sejam expostos no logradouro causando prejuízos ambientais.