sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

O futebol amador no Vale do São Francisco

Um passado de triunfos, um presente com pouco prestígio e um futuro incerto. O futebol amador nas cidades de Juazeiro, Petrolina e Curaçá pode está com os dias contados.



Por Luciano Lugori, Raianne Guimarães e Mário Alves (T)



Time do Veneza de1956, onde atuou Paulo Mandinga


Campos de várzea, futebol amador charmoso que envolvia o público e os jogadores, assim, eram as tardes de domingo na cidade de Juazeiro da Bahia nas décadas de 1920 até início dos anos 1990. O futebol é tido como cultura, pois consegue unir inúmeros povos, oferece alegria, paixão e possui uma vertente social, representando a identidade de uma nação!


Juazeirenses que viveram na cidade de Juazeiro nesse período relembram com saudosismo a grandiosidade que era a prática do futebol amador na região baiana. Celeiro de craques, o futebol alcançou dimensão no cenário nacional durante o decorrer dos anos.

Não se sabe ao certo a origem do futebol, mas acredita-se que tenha surgido em 1863 na cidade de Ashbourne na Inglaterra, praticado pela classe operária no horário livre ao trabalho, conquista do movimento operário sindical. No Brasil, Charles Miller - paulistano do Brás - foi morar na Inglaterra e, ao retornar ao seu país de origem em 1894, trouxe a primeira bola e regras futebolísticas para esse.

Em Juazeiro quem trouxe a primeira bola foi o juazeirense Adolfo Bonfim, nascendo assim o futebol na cidade entre 1915 e 1920. Eram poucas as opções de lazer, por exemplo, não existia cinema, então a prática do futebol amador era uma busca pela diversão no fim de semana, pois os jogos eram realizados no domingo. A cidade em dia de jogo ficava mobilizada, era realmente um espetáculo esportivo, com direito a torcida organizada feminina.

Em 1919 não havia a organização das agremiações, mas já existia o primeiro seleto de jogadores, tratava-se do Veneza Foot-Ball Club. “Um pessoal que veio de uma fazenda chamada Veneza que existe em Curaçá, cujo espaço ficava alagado quando chovia, se instalou em Juazeiro, e quando choveu na terra das Carrancas, alguém gritou a Veneza. Daí a explicação da origem do nome do time”, lembra o pedagogo e radialista Toni Martins.

Times como Castro Alves, Associação Atlética Juazeirense, Bahiano também iniciaram a prática do futebol amador na cidade. Depois surgiram Olaria e América, entre tantos que alegravam os juazeirenses e toda a região. Jogadores como Caboclinho, Padeirinho, Artur Lima, Dozinho eram considerados craques.


A formação da Liga Desportiva Juazeirense

Para organizar os clubes e cadastrar jogadores de futebol amador criou-se a Liga Desportiva Juazeirense (LDJ), em 28 de março de 1923. A LDJ ficou responsável por promover campeonatos municipais e intermunicipais, onde equipes de Curaçá e Petrolina participavam. José de Meira Cabral foi o primeiro presidente da LDJ e João Meirelles de Souza o vice. Nomes como professor Agostinho José Muniz e Olegário de Assis também formaram a primeira diretoria.

Prestes a completar 89 anos, a LDJ tinha como objetivo o incentivo à prática da educação física e aperfeiçoamento estético dos jovens, conforme prevê ata de fundação. Tinha uma ligação direta com a Federação Baiana de Futebol, para os mais íntimos FBF, fazendo com que os melhores árbitros de futebol de Salvador apitassem em Juazeiro. A LDJ era vista como uma das ligas mais bem organizadas dentro da FBF. Os campeonatos existentes na época eram o interno da Liga, o intermunicipal e tinha o BaPe, os melhores times de Juazeiro contra os melhores times de Petrolina e era casa cheia nos estádios das duas cidades.

As competições do futebol amador eram divididas em duas categorias: o primeiro e o segundo quadro. O primeiro quadro era para aproveitar aqueles jogadores novos que vinham do segundo, funcionava como time de base para a primeira categoria, já que jogadores mais jovens jogavam nessa divisão. Os jogos eram realizados nos campos de várzea do XV de Novembro, da Leste em Piranga, no campo do Morrão no Castelo Branco (hoje praticamente não existem mais esses campos), até a construção do Estádio Adauto Moraes.

A LDJ era organizada e auto-sustentável. Segundo o ex-jogador e ex-presidente da Liga Paulo Santana, mais conhecido como Paulo Mandinga, a entidade tinha tanto dinheiro que um presidente andava com talões de cheques distribuindo para o povo.

Quem acreditaria que uma cidade do interior da Bahia poderia trazer o presidente da Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA), João Havelange? Pois é, a Liga Desportiva de Juazeiro conseguiu trazê-lo em 1977, devido à importância do futebol amador da cidade. Vasco da Gama, Flamengo e Botafogo também estiveram no município para jogar contra os times amadores de Juazeiro.

A LDJ bancava essas competições e a Prefeitura só dava a cada time um jogo de camisas e par de chuteiras no início dos torneios. A renda da bilheteria era da Liga, mas os clubes também tinham participação no lucro, mantidos por empresários amantes do futebol e pela torcida. “Naquela época existia muitos empresários, como Zé Gomes, Lulu, grandes torcedores que ajudavam os clubes de Juazeiro, como o Olaria, Veneza, Carranca. E isso formavam grandes equipes”, diz Silvandro Ribeiro, ex-jogador do Veneza.

Antigamente por ser amador, os jogadores não recebiam salário, o que existia era um contrato feito pela Liga. O atleta poderia até ganhar dinheiro, mas sem ser oficializado. Era uma época em que o futebol amador passou a ser uma espécie de profissionalismo e "amador marrom", porque muito jogador tinha contrato de gaveta com os times, ou seja, recebiam dinheiro dos donos das empresas, mas sem fazer muito alarde. Muitos atletas trabalhavam nas empresas que mantinham os clubes, então, eram funcionários durante a semana e jogadores durante o domingo.

A decadência da LDJ

Os anos passaram e os louros também, conflitos e ostracismo tomaram conta do futebol amador. No final da década de 90 e início dos anos 2000, a LDJ foi gerida por Antônio Barbosa, o Baé, e a entidade passou por crises financeiras.

Depois de Baé, quem ocupou o cargo foi Francisco José, que administrava o Estádio Adauto Moraes ao mesmo tempo em que geria a LDJ. Ele foi destituído do cargo pelo desporto, presidentes dos clubes federados à Liga, que não concordaram que um gestor da LDJ gerisse também o Estádio. Atualmente, a LDJ para a Federação não existe mais. A decadência da Liga, o surgimento de novos esportes, a falta de interesse público, da mídia, do empresariado e da população, sem contar no surgimento do profissionalismo, fizeram com que o futebol amador desaparecesse do cenário das conversas dos finais de semana em barzinhos, apesar de ainda serem realizadas competições amadoras.

Nos dias atuais, a Prefeitura Municipal assumiu a responsabilidade para a prática do futebol amador e o utiliza como uma ferramenta para que os jovens possam fugir das drogas, formar cidadãos e atletas. De acordo com Gilberto Pacheco, gerente de esportes de Juazeiro, o futebol amador é uma forma de integração e inserção social, gerando emprego e renda. E além disso, é um direito constitucional para assegurar o lazer, a prática esportiva e a promoção da saúde do cidadão.

Os campeonatos existentes hoje são a Liga Principal, campeonato amador onde participam oito clubes filiados a LDJ, o Campeonato Distrital, que ocorre com os oito distritos da cidade e o Campeonato Interbairros, uma competição entre os bairros da cidade. Em 2011, o campeão do Interbairros foi o Alto do Cruzeiro e do Distrital foi à seleção de Itamotinga. Atualmente, Veneza, Olaria, XV de Novembro, Carranca, Juazeiro, Barro Vermelho, América e Colonial fazem parte da LDJ.

Porém, essa prática não empolga mais tanto o juazeirense acostumado ao brilho do futebol amador de outrora. Mas, de acordo com Charles Leal, presidente do Veneza, que ainda comparece a todos os jogos da equipe, existe um sentimento de realização quando vê o seu time e os outros amadores em campo. Porém, segundo ele falta ajuda da Prefeitura, pois os presidentes dos times têm que ficar mendigando para os clubes continuarem existindo. Ele ressalta ainda que o direito constitucional não é cumprido na íntegra.

A transição do amador para o profissional

“Hoje o futebol de Juazeiro amador acabou! Ele foi forte até os anos 90, quando entrou de 95 para cá caiu de vez”, desabafa Paulo Mandinga. Apesar de se ter ainda a prática do futebol amador sub 17 e principal, essa modalidade nos dias atuais não representa mais a áurea época de Padeirinho e Caboclinho, pois não tem alegria, nem a mesma efervescência do torcedor que ia para o Estádio Adauto Moraes.

“Tivemos uma época de ouro no futebol amador de Juazeiro. A equipe do Bahia vinha aqui e apanhava, Vitória vinha aqui e apanhava. Aqui, começaram a surgir grandes jogadores e, diante disso, começou a se pensar lá fora no grande interesse dos jogadores de Juazeiro, então, começou a surgir a ideia de fazer um time profissional”, relembra Mandinga. Muitos jogadores saíram do amador de Juazeiro para despontar em times da capital baiana, e todo o Brasil. Alfredo Futuca foi jogar no Bahia, Louro foi para o Galícia, Luiz Pereira foi para o São Bento de Sorocaba, Nunes foi jogar no Flamengo e tantos outros.

O futebol amador não tinha mais como escapar do profissionalismo, pois o Brasil, aos poucos, ia descobrindo que a terra às margens do Rio São Francisco poderia oferecer muito mais, já que há décadas a cidade revelava jogadores de qualidade e o faz até hoje (com menos frequência), porém com um caráter lucrativo. Nixon Darlanio, que está no Flamengo do Rio de Janeiro, e Jean Almeida, que foi para o time paulista Corinthians, são as mais novas promessas saídas do celeiro de craques juazeirenses.

Se antes o simples trabalhador que jogava por prazer e diversão passou a ser um produto do futebol, quem diria que o jogador de futebol se tornaria um profissional da bola? Pois, isso aconteceu. Os times América, Barro Vermelho, Carranca, Colonial, Grêmio, Olaria, XV de Novembro e Veneza formaram em 16 de agosto de 1995 o primeiro time profissional da cidade, o Juazeiro Social Clube.

Com o profissionalismo, o público tem prestigiado mais o futebol profissional do que o amador, com exceção da equipe do Colonial de Maniçoba que desde 1998 sempre coloca 1.500 a 2.000 torcedores em finais de campeonatos. A falta de investimentos para incentivar a população a ir ao Adauto Moraes assistir o futebol amador está fazendo com que as equipes dessa prática não recebam praticamente nada pelos jogos.

“Quem mantém as equipes amadoras hoje é o poder público, e quando tira toda a despesa do jogo: gandula, árbitro, o rapaz da administração do Estádio a gente não fica com praticamente nada. Para se ter uma ideia tem arrecadações que a gente fica com vinte reais”, afirma Alfredo Gonçalves, presidente do XV de Novembro.

Outro motivo que fez com que o futebol amador fosse desvalorizado é que, com a ascensão do profissionalismo, os jogadores preferem ir para um time em que ele receba salário ou uma ajuda de custos do que participar de uma competição amadora.

O profissional de Juazeiro surgiu do amador e foi para o profissional sem custo nenhum para o time de origem. Alfredo Gonçalves diz ainda, que, atualmente, os dirigentes dos clubes amadores buscam uma forma dentro da lei para que possa registrar esses meninos e, quando eles forem para outro clube, a associação amadora possa receber uma parte da venda, mas isso a lei ainda não permite. A Liga cadastra, porém, esse jogador não fica atrelado ao clube.

Para que o futebol amador seja mais praticado e o público volte a se encantar, teria que ter mais campos disponíveis e adequados para treinos dos clubes profissionais e porque não amadores. Uma maior organização, incentivo moral e financeiro da Prefeitura, dos empresários e da população, pois nem tudo é de responsabilidade do setor público também deveriam ser pensados. “A questão financeira dos clubes e da própria Liga é o principal motivo para não se realizar um número maior de campeonatos”, alerta Josival Barbosa, presidente da LDJ.

O futebol amador poderia ser uma base maior para os times profissionais, para que cada vez mais apareçam bons jogadores. Para isso acontecer, as competições amadoras devem diminuir a categoria de sub 17 para sub 12 ou 15, já que de acordo com Janílson Britto, auxiliar técnico do Juazeiro Social Clube e ex-jogador amador e profissional, tem surgido muito pouco jogador vindo da base.


Joacir Oliveira venceu a eleição presidencial da LDJ no dia 15 de fevereiro, para tentar modificar o cenário de “esquecimento” em que se encontra o futebol amador de Juazeiro.


Por onde andam os craques do futebol amador?



Bartolomeu Britto Monteiro, o popular Caboclinho
O futebol juazeirense ficou mais triste, pois morreu no dia 19 de Janeiro, aos 78 anos, Caboclinho, um dos maiores craques considerados pelos torcedores que o viram jogar. Com passagens pelo América de Petrolina, Olaria, Veneza, Fluísco, seleção de Juazeiro e depois como treinador do Carranca, Caboclinho fez história no futebol amador da cidade. Bartolomeu Brito Monteiro, seu nome de batismo, começou a jogar em 1945 com 12 anos e foi campeão com essa idade. Aposentado pela Companhia de Navegação do São Francisco, empresa que o fazia jogar no time do Olaria, ele acreditava que faltava base no futebol profissional, e por isso que os times da cidade não tinham consistência nos campeonatos. Foi como treinador que Caboclinho teve uma de suas maiores glórias, pois o lateral juazeirense Daniel Alves passou por sua escolinha e se tornou um ídolo mundialmente conhecido. Muitos juazeirenses também devem sentir saudades de ver em campo José Pereira de Lima ou simplesmente Padeirinho. Ele começou sua carreira com 17 anos em 1937, e jogou até 71. Atuou contra o Vitória, Bahia e Galícia. Para Padeirinho a época mais esplendorosa do futebol amador foi de 39 a 42 com Veneza e Olaria. Este foi o time que ele mais atuou, sendo tricampeão nos anos de 56, 57 e 58. “Naquele tempo os jogadores eram melhores do que hoje”, afirma Padeirinho no auge dos seus 94 anos. Na reinauguração do Estádio Adauto Moraes, em 14 de Janeiro de 2012, eles deixaram as marcas de seus pés na “calçada dos craques”, ficando eternizados no Estádio.





O futebol amador em Petrolina

CaianoEsporte Club de Petrolina (década de 60)

O futebol em Petrolina no final da década de 40 era bastante praticado nos bairros, muitos torneios eram realizados e cada time possuía sua torcida apaixonada. Como esses campeonatos tornavam-se cada vez mais disputados e atraíam muitos torcedores aos jogos, sentiu-se a necessidade de criar uma instituição que pudesse organizar o futebol amador na cidade. Nasceu, assim, a Liga Desportiva Petrolinense (LDP) em 1948, onde Januário Alves, arrebatado pelo futebol foi o fundador. A Liga teve um papel importante para a difusão do esporte.

Com a entidade, os times filiavam-se para garantir o direito de participar do campeonato amador. Palmeiras Esporte Clube, equipe mais antiga da cidade e fundada em 1949, América Futebol Clube, Caiano Sport Clube, Ferroviária Esporte Clube, Náutico Esporte Clube, 1º de Maio Esporte Clube, Petrolina Social Futebol Clube travaram grandes duelos nos campeonatos.


No município não se praticavam outros esportes e por ser tão popular, o futebol era umas das principais atrações da cidade. O ex-jogador da década de 60, Ederaldo Barbosa, conhecido por Dedé das Pedrinhas, relembra como as pessoas reagiam em época de campeonato. “A cidade respirava futebol no sábado, domingo e na segunda. A Praça Dom Malan era o nosso ponto de discussão sobre futebol”, acrescenta Dedé.

Antes da construção do estádio Paulo Coelho, os jogos amadores eram realizados no campo do colégio Dom Bosco. A cada ano, a rivalidade aumentava ainda mais. Os torcedores eram fiéis e apaixonados pelos seus times. Em dia de clássico, a cidade praticamente parava. Amantes do bom futebol, imprensa e empresários se amontoavam para garantir seu lugar no campo. Mesmo em dia que não era clássico, os torcedores de outras equipes assistiam às partidas, pois, segundo o atual Presidente da LDP e ex-jogador, Luciano Alves, “o futebol era tão bonito de ser assistido que valia a pena a gente sair de casa para ver qualquer jogo”.

Os times amadores da cidade possuíam uma estrutura aproximada dos times profissionais de hoje. Treinavam, se concentravam, recebiam gratificações, tudo pelo amor que o esporte oferecia. Todos os jogadores tinham como o futebol uma forma de renda extra, mas com amor e diversão em primeiro plano. As empresas que tinham jogadores como funcionários os liberavam mais cedo para os treinamentos e concentrações.

Por muito tempo, a Liga organizou campeonatos amadores, mas, nas décadas de 80 e 90, a safra de jogadores teve maior destaque no cenário nacional e mundial. Os atletas tinham mais visibilidade e eram contratados pelos clubes profissionais. Com o passar do tempo, o profissionalismo acabou se instalando no lugar do futebol amador e os torcedores passavam a freqüentar menos o estádio. “Sem dúvida o profissionalismo tomou o brilho e a paixão do futebol na região”, afirma o presidente da LDP.

Hoje com o avanço desenfreado das contratações futebolísticas, os campeonatos amadores passam por uma grande crise. Segundo Alves, os atletas da atualidade esqueceram do amor pelo futebol e passaram a pensar primeiramente na parte financeira. “Acabou a época da paixão pelo esporte mais popular do Brasil, o dinheiro subiu para a cabeça dos nossos jogadores”, ressalta o presidente.

Após seis anos sem haver o campeonato amador em Petrolina, a LDP buscou resgatar a história dos grandes clubes. Em 2011, dois times tradicionais disputaram a final do torneio, onde o Palmeiras se sagrou campeão e o Caiano vice. Os jogos aconteceram no estádio Paulo Coelho, e mesmo sem a cobrança do ingresso os torcedores não freqüentaram as partidas como nas décadas passadas.


O futebol amador já foi a principal atração na cidade petrolinense. Se algo não for feito para que ele volte a ser novamente uma tradição, talvez a bela história que esse esporte trilhou passe a ficar apenas na memória daqueles que o vivenciaram.

Curaçá Futebol Clube: breve histórico do esporte na cidade


O futebol em Curaçá existe há muitos anos, no entanto, a precariedade de informações e escassez de registros fez com que a história do esporte na cidade seja ainda uma página em branco, ou, apenas alguns rabiscos em atas que resistiram ao tempo. O professor Paulo Cezar Dias Torres afirma que o desporto chegou à cidade através do seu pai, Durval dos Santos Torres, conhecido como Durval Gato, que nos idos dos anos 30 participou da fundação times tradicionais de Juazeiro. “Durval foi um dos responsáveis pelo nascimento do futebol aqui na cidade, deu idéias e ajudar a formar clubes. Uma prova disso e de reconhecimento do seu esforço é o que Estádio Municipal leva o seu nome”, conta Paulo Cézar.

Durante anos, o futebol ainda engatinhava em terras curaçaenses e somente no final dos anos 50 e início dos anos 60 começou a se firmar como uma realidade com o surgimento de times de maneira mais organizada, com destaque para as equipes do Cruzeiro e do Independente, que além de jogar entre si, disputavam partidas em cidades vizinhas, como Uauá e Santa Maria da Boa Vista. Um dos registros fotográficos é do esquadrão do antigo Ginásio Municipal de Curaçá, de 1964. “O time do colégio era muito forte, tinha grandes atletas e chegou a jogar vários amistosos contra times de outros municípios”, revela Bendito Franco de Andrade, popular Dito de Joatan.
Primeiro time do GinásioMunicipal de Curaçá em 1964

No ano de 1967, foi realizada uma reunião com atletas e dirigentes a fim de restaurar a então Liga Desportiva Municipal de Curaçá (LDMC) que logo passou a ser denominada Liga Esportiva Curaçaense (LEC). A preocupação para tal organização era justificada pelo avanço e maior valorização do futebol na cidade. Nos anos 70, houve um aumento do número de times, o que despertou interesse da Liga em organizar as disputas em forma de torneios e campeonatos. Vasco, Flameguinho, Nacional, Santos, Internacional e Bahia eram os clubes que figuravam no cenário do futebol amador Curaçaense.

Na década de 80 a rivalidade e as disputas estavam cada vez mais acirradas. Clubes iam surgindo, torcidas se organizavam e se amontoavam à beira do campo para torcer e vibrar com as grandes jogadas e belos gols. Os campeonatos eram mais competitivos, as taças e troféus bem mais cobiçados. Cobreloa, Bambuí, Catauense, Botafogo, e tantos outros times, fizeram parte de uma década cheia de emoção. Nos anos 90, começou o declínio do esporte na cidade. O envelhecimento daqueles que iniciaram a história curaçaense e morte de alguns jogadores parece, parece ter adormecido a esperança da continuidade e alegria dos velhos campeonatos.

Os últimos dez anos serviram para apagar o brilho do futebol amador na cidade. A falta de organização da Liga Desportiva Curaçaense, a atual LDC, a falta de incentivo e de políticas públicas municipais voltadas para o esporte fizeram com que o campeonato deixasse de ser organizado. Em conseqüência disso, clubes tradicionais perderam a vontade de competir, muitos sequer existem mais, lideranças esportivas mergulharam na falta de interesse. Muitos atletas atribuem a culpa ao governo municipal que abandonou o Estádio Municipal e o entregou ao descaso. “Desde o ano de 2007 não houve mais uma preocupação para organizar competições, isto porque o Estádio entrou em numa reforma que até hoje não foi concluída”, lamenta Miranda Alves Nunes, atleta que atuou por diversos clubes.



Copa Anísio Pinheiro: integração do futebol intermunicipal


Carteirinha de identificação dos atletas
Em 1997, o presidente da Liga Desportiva Juazeirense, Carlos Humberto, teve a ideia de organizar um campeonato que envolvesse clubes baianos das cidades vizinhas Curaçá, Juazeiro, Uauá, Sento Sé e Petrolina, de Pernambuco. Depois de alguns meses reunindo-se com os dirigentes locais para discutir a forma da disputa, regulamentos, cadastro de clubes e atletas, o torneio acabou acontecendo no segundo semestre. Como a intenção era integrar as Ligas, as partidas aconteceram no sistema de ida e volta, com jogos em todas as cidades participantes. A final na copa aconteceu no dia 2 novembro de 1997 tendo se sagrado campeã a equipe do Barro Vermelho. A escolha do nome: Anísio Pinheiro foi um esportista juazeirense que prestou inúmeros serviços a Liga Desportiva Juazeirense (LDJ), tendo seu nome ligado à história do esporte em Juazeiro. De sua família originaram diversos jogadores que se destacaram no cenário futebolístico da Bahia, cita-se o exemplo de Louro, que saiu da cidade para atuar no Galícia, time da capital baiana. O torneio foi organizado pela LDJ com apoio de comerciantes locais e existiu em edição única.




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