quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Lixo eletrônico e os danos causados ao meio ambiente

Na cidade de Juazeiro falta pontos de coleta de lixo eletrônico e discutir sobre o assunto 


                                                                                                                                                      Por Raianne Guimarães (T) e (F)
                                                                                                                         
Televisores, rádios, computadores e até carros são jogados nas ruas e calçadas da cidade de Juazeiro da Bahia, como se fossem lixo comum. Este tem sido o destino do chamado Lixo eletrônico ou tecnológico, que pode causar danos ao meio ambiente, se não forem reutilizados ou até mesmo depositados em locais apropriados. Hoje, os resíduos eletrônicos representam 5% de todo o lixo produzido pela humanidade. Isso quer dizer que, 50 milhões de toneladas são jogadas fora todos os anos pela população do mundo. 



Descartados em lixões, como o que acontece em Juazeiro, alguns trazem em sua composição metais pesados tóxicos como mercúrio, cádmio, berílio e chumbo, provocando contaminação do solo e da água, por não serem biodegradáveis. Cada vez que se joga fora um equipamento, seja um computador ou um celular, descarta-se toda a matéria-prima, a água, a energia e o trabalho gastos na sua produção. No Brasil, 60% do lixo coletado não têm destinação correta, ou seja, são encaminhados para os lixões. 


Na cidade baiana não há empresas, Organizações Não Governamentais, cooperativas que recolhem e tratem esses materiais na cidade. Na prática, o descarte é tratado como lixo comum. Gráficas, eletrônicas procuram reaproveitar as peças de algum eletrônico velho ou quebrado. Porém, diante da falta de postos para a coleta, os objetos são jogados em terrenos. “Teve um dia que joguei uma máquina, que não tinha mais serventia, em um terreno baldio atrás da gráfica”, diz Micael Benaia, proprietário de gráfica em Juazeiro. 

De acordo com Edílson Coelho, especialista em Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Regional de Juazeiro (Inema), na cidade de Juazeiro não existe uma fiscalização sobre o lixo eletrônico que é depositado com o residual. “O correto seria o resíduo retornar para as fábricas”, diz o especialista referindo-se ao lixo eletrônico. 

Em um banco da Praça Simões Filho, descansando até retornar ao trabalho, Raimundo Benedito, que trabalha como gari de Juazeiro, conta que vê muito lixo eletrônico nas ruas, sendo mais comum a televisão. Esta semana, ele encontrou na rua dois televisores, que estavam quebrados. “A gente vê muito lixo (eletrônico) para o carro de lixo pegar. Aí, o pessoal da coleta apanha o lixo, joga no carro, prensa e depois descarrega no lixão. Tem uns televisores que se aproveitam alguma coisa para vender: o cobre, mas outras não têm mais nada que preste”, diz. 


Política Nacional dos Resíduos Sólidos 

Considerando os impactos negativos causados ao meio ambiente pelo descarte inadequado desse lixo eletrônico e outros resíduos, foi aprovada no ano passado a Lei Nº 12.305, chamada de Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), sendo necessário disciplinar o descarte, gerenciamento ambiental, reutilização, reciclagem, tratamento ou disposição final. De acordo com a PNRS, é de responsabilidade dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, consumidores e as diferentes esferas do poder público, fiscalizar o descarte do lixo eletrônico. 

A Lei Nº 12.305 ainda é pouco atuante na cidade de Juazeiro. Apesar de ser Lei Federal, os municípios terão de adaptar à Política de Resíduos Sólidos à sua região, proibindo os lixões e o descarte de resíduos que possam ser reciclados ou reutilizados. Porém, o prazo para adequar-se à lei é até 2014. Caso não seja implementadas as medidas, os municípios deixarão de receber incentivos fiscais. 

Desde o ano passado, reuniões foram feitas entre Juazeiro, Pilão Arcado, Sento Sé e regiões para que estes municípios tenham seus resíduos gerenciados em forma de consórcio, ou seja, o órgão passa as atribuições para os municípios. Para Josefa Galdino, supervisora de Núcleo de Licenciamento Ambiental da Secretária de Agricultura, Desenvolvimento Rural e Meio Ambiente (Seadruma), “A lei dos Resíduos Sólidos contempla em parte na cidade, mas, para que esta lei exerça sua função jurídica é necessário ações, como implantações da coleta seletiva, construção de aterro sanitário, o emprego da logística reversa”. 


Empresas de Juazeiro praticam a Lei dos Resíduos Sólidos 

Ao contrário do Município, algumas empresas já estão com medidas de recolhimento do lixo eletrônico. Uma empresa de energia de Juazeiro em parceria com a Neoenergia desenvolve o projeto “Nova Geladeira”, onde são doados refrigeradores a moradores de baixa renda, que repassam para a empresa suas geladeiras antigas. Além de reduzir a conta de energia dos usuários (uma geladeira em mau estado de conservação pode ser responsável por até 70% do valor da conta de energia), faz-se o destino adequado ao eletrônico, contribuindo para a não degradação do meio ambiente. O Brasil é o líder entre os emergentes, ao lado da China, em despejar geladeiras. Em números absolutos, seriam 115 mil toneladas no Brasil, contra 495 mil na China. 

“O gás Clorofluorcarbono (CFC-12) das geladeiras antigas é retirado por empresas especializadas para o descarte ambientalmente correto, e, os plásticos e metais das carcaças são reciclados. A verba apurada na venda destes materiais é direcionada para programas de ação social da Empresa”, afirma Eduardo Almeida, engenheiro elétrico da empresa e representante ambiental na Região Norte do Estado. 



Outra experiência de recolhimento do lixo eletrônico são as urnas de coleta de aparelho celular. Na cidade de Juazeiro, as operadoras de celulares e revendedoras autorizadas disponibilizam urnas para coletar celulares obsoletos. Segundo Obede Moraes, gerente de loja de uma operadora, não são as operadoras que fazem o destino do objeto, e sim as empresas que fabricam o celular, porém, não existe uma periodicidade para a coleta deles. Entrarão no mercado anualmente mais 80 milhões de celulares, mas somente 2% serão descartados de forma correta. Os outros 98% serão simplesmente guardados em casa ou despejados no lixo comum. 

“O cidadão por sua vez não cobra aos meios tecnológicos responsáveis pelo serviço, ela própria não se incomoda em jogar no lixo. O brasileiro por natureza, não é cobrador. Nós (brasileiros) ainda temos uma cultura onde se cospe no meio da rua, joga resto de cigarro no logradouro. Nossa parte a gente faz, a gente recolhe, e só está aguardando agora a coleta”, conclui o gerente. 


José Vieira trabalhando em sua eletrônica. Onde se encontra os mais diversos tipos de resíduos.

Enquanto o poder público não implanta a coleta seletiva, os materiais podem ter valor comercial, e serem reaproveitados em outros equipamentos. José Vieira, técnico em eletrotécnica, recebe de 50 a 60 aparelhos para consertar, e muitos donos acabam deixando lá. Para ele, a população é muito consumista, o que tem contribuído para aumentar a quantidade de lixo eletrônico. “Quando chega aqui já vai logo dizendo: dê só uma olhadinha, porque se não já vou logo comprar outro. Um dia um menino achou uma televisão na rua e trouxe para eu ver. Troquei a tomada que estava cortada e fiz uma pequena manutenção, e hoje o garoto está usando”, conta o técnico. 

Com o crescimento da tecnologia nas últimas décadas, agregou-se à sociedade o poder do consumismo, sem refletir nos danos causados ao meio ambiente. Para evitar prejuízos ambientais, o juazeirense deve pensar como educar-se em não jogar eletrônicos na rua, procurar os postos que existem de coletas, cobrar mais do poder público, e esperar a conclusão do aterro sanitário em fase de construção para que materiais não biodegradáveis não sejam expostos no logradouro causando prejuízos ambientais.

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