segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Antonio Lisboa de Carvalho Filho, o Toinho extrovertido e aventureiro.


Por Mário Alves



Antes de fazer a feira de casa, Antonio Lisboa de Carvalho Filho, conhecido popularmente como Toinho, me concedeu uma entrevista às cinco da tarde de uma sexta feira. Ele havia acabado de chegar da roça no momento que o abordei. Fui muito bem recebido em sua casa, e numa sala aconchegante, aguardei uns cinco minutinhos até começarmos o bate papo.

Toinho, 45 anos de idade e 47 na identidade, nasceu num povoado chamado Itaizinho, há 28 quilômetros de Paulistana no Piauí. Quarto filho de Teonília Emília da Cruz e Antonio Lisboa de Carvalho, ambos agricultores, passou boa parte da sua infância no meio rural. Na época, os bebês do vilarejo nasciam com o auxílio das parteiras, inclusive sua avó, Balbina Maria das Virgens, realizou o parto do seu nascimento.

Sr. Lisboa foi ao cartório da cidade registrar Toinho e mais duas filhas, Teresinha e Francis. Lá, ocorreu algum equívoco, cujo responsável até hoje ninguém sabe ao certo. As três crianças foram registradas com anos diferentes. Aumentaram dois anos para Teresinha, um ano para Francis e dois anos para Toinho. Sr. Lisboa afirma que foi culpa da moça do cartório. O certo é que os três se tornaram mais velhos nos documentos.

Como a vida rural em qualquer lugar pequeno é difícil, não foi diferente com a família de Toinho. Passaram-se seis longos anos vivendo apenas da agricultura familiar, e ele ainda criança, ajudava no que fosse necessário. Levava as vacas ao curral, pegava água nas cacimbas, plantava, enchia os potes de água da casa, fazia realmente de tudo. Até que Teonília e Lisboa, pensando no futuro dos filhos, resolveram morar na cidade (Paulistana) para que eles tivessem uma boa educação.

Na cidade, iniciaram com um restaurante-bar. Com oito anos, Toinho foi crescendo naquele meio, e sempre acompanhava seus pais em praticamente todas as atividades do comércio. A necessidade de vender mais produtos, por causa da procura no estabelecimento, fez com que Sr. Lisboa e D. Teonília ampliassem os negócios e passaram a investir mais ainda no empreendimento.

Fizeram uma quitanda, onde se encontrava quase tudo: ovos de capoeira, leite, queijo, frutas, doces, carnes e pães. Com isso, Toinho seguia os passos dos pais e sempre trabalhava também. Seus pais o acordavam às três da manhã e juntamente com suas irmãs, Francis e Teresinha, colocava as mãos na massa. “Meu pai nos dava coca-cola para nos manter ativos”, (risos) afirma Toinho. Isso, porque o estabelecimento virou padaria também.

Como se não bastasse as atividades comerciais, Sr. Lisboa e D. Teonília tiveram a idéia de fazer da casa um hotel, pois na cidade não existia local para os viajantes passarem a noite. Os hóspedes dormiam, tomavam café da manhã, almoçavam e jantavam sem precisar procurar outro lugar.

Sempre curioso, Toinho observava seu pai dirigindo um opala comodoro e num certo dia um pessoal foi ao restaurante para conseguir alguém para levá-los ao interior, e ele travesso, com nove anos, disse que sabia dirigir, sendo que nunca havia pego um carro, apenas aprendeu olhando seu pai. Até certo local ele dirigiu, mas desligou o carro e não soube religá-lo. Uma das pessoas falou que ele não sabia dirigir e que conduziria o veículo a partir daquele ponto. O rapaz deixou o pessoal no interior e voltou para deixar o traquino em casa.

Seu pai sempre ia ao interior vender pães e comprar as mercadorias para vender na cidade, e nessa prática, Toinho sempre estava por perto. “A cada ida às feiras dos interiores eu ia gostando mais e mais de comercializar”. Ele sempre foi curioso e sempre gostou de desafios. Na cidade, ele passou a engraxar sapatos dos hóspedes do hotel para garantir um dinheirinho extra, e nessas idas e vindas aos interiores, ele plantou a idéia nas crianças para fazerem as caixas de engraxate e a começarem a ganhar dinheiro também. Só que para essas crianças trabalharem, precisavam do material, foi aí onde Toinho esperto, começou a vender as escovas e as tintas a eles.

Na cidade, agora com dez anos, Toinho ao fazer pão, começou a esconder os sacos brancos de farinha de seu pai, que foram utilizados para fazer um pequeno circo. Toinho juntou um grupo de colegas da mesma idade e montou o circo para arrecadar dinheiro e gastar num parque da cidade. Ele e outro colega eram os trapezistas, duas meninas eram dançarinas e ajudavam também no trapézio. Para eles era uma verdadeira diversão. Porém, essa invenção durou cerca de vinte dias, até que seus pais descobriram e bateram nele pelo fato de ter escondido os sacos.

Para continuar a evolução dos estudos dos filhos, Sr. Lisboa e D. Teonília resolveram morar em Petrolina-PE. Sr.Lisboa ao chegar à cidade, comprou um caminhão para trabalhar fazendo frete e conseguiu um trabalho como pedreiro. Toinho passou a trabalhar no caminhão com um motorista habilitado ao lado, enquanto seu pai trabalhava como pedreiro para garantir uma renda extra.

Após muita batalha, resolveram vender o caminhão para comprar uma casa. Assim fizeram, e Toinho passou a ser servente de seu pai, pois Sr. Lisboa havia se dedicado apenas ao ramo da construção civil. Mas não durou muito tempo, venderam umas criações que ainda tinham no Piauí e compraram outro caminhão e Toinho passou a trabalhar numa serralharia e seu pai passou a ser motorista.

Com 16 anos de idade e 18 na identidade, Toinho foi se alistar no exército. Por ter um porte físico desenvolvido e por realmente querer servir, ele foi escolhido. Sua função era motorista das tropas. Realizava muito treinamento físico e ia desenvolvendo ainda mais seu corpo. Num certo dia, ele foi deixar a refeição de uma tropa que estava em treinamento específico, e houve um erro de comunicação da tropa em terra com os soldados que sobrevoavam a área num helicóptero, e esse erro resultou numa rajada de tiros, deixando todos em terra aflitos e desesperados. Toinho correu pela mata adentro e se machucou com os obstáculos. “A rajada de metralhadora vinha de todos os lados, foi um momento de tensão e medo”.

Durante um período de dois anos servindo ao exercito, Toinho passou a se empolgar, com seu corpo atlético, e começou a namorar, e as garotas que antes não lhe davam chances, após esse tempo militar elas que o paqueravam. Foi também através do exercito que ele tirou sua habilitação.

Nessa época, ele ainda concluía o 1° grau na escola e sendo militar, aprontava muitas travessuras. Um dia, ele tirou uma foto com uma cobra e mostrou aos amigos da escola, que o achavam o todo poderoso. E ele então, pegou uma cobra corredeira do exercito e levou para casa numa caixa e no dia seguinte colocou dentro de sua camisa, sem que as pessoas desconfiassem, e soltou no fundo da sala. Começou a aula e num momento a professora gritou: __ Não se mova menino, tem uma cobra atrás de você. Gritou com um aluno da sala. E Toinho com toda coragem do mundo, pegou a cobra e soltou-a no pátio da escola, mas os garotos acabaram matando o animal. Ele ficou conhecido como o garoto corajoso da escola e se tornou mais popular.

Eram diversas travessuras realizadas por Toinho. Como estudava a noite, tinha vezes que ele folgava as lâmpadas dos bocais deixando-as piscando, e ao piscar atrapalhava a aula, forçando os professores a cancelar as atividades do dia.

Ao sair do Exército, trabalhou numa loja de autopeças como cobrador. Realizava o serviço numa bicicleta rodando as cidades de Petrolina e Juazeiro. Mas ele não queria ficar nessa função e almejava ser vendedor. Nos intervalos para o almoço, ao invés de descansar, ficava aprendendo as funções das peças dentro da loja. Não podia ter uma folga que ia limpar as prateleiras das peças e sempre buscava informações com os vendedores.

Aprendeu a vender, comprou um fusca com problemas mecânicos e seu patrão forneceu as peças com uma boa condição para pagar. Ele jovem arrumou o fusca e curtia sua juventude. Ficou sabendo da venda de uns lotes no projeto Nilo Coelho e conversou com seus pais para investirem na agricultura. Sr. Lisboa e D. Teonília aceitaram a proposta e entraram como sócios. Toinho teve que vender o fusca para começar o novo empreendimento.

Começava um novo rumo em sua vida na agricultura. Ele trabalhava na loja de autopeças e nos horários e dias livres ele ia trabalhar na roça. No início foi complicado, investiu muito no tomate e não obteve o resultado esperado na primeira safra. Porém, o sucesso dele era na agricultura mesmo. Ansioso e esperançoso no sucesso da agricultura, ele pediu para sair da loja e se dedicou apenas à roça.

O novo negócio deu certo, Toinho apostou tudo no cultivo da manga, acreditou e com o apoio da família, cresceu comercialmente. Ele plantava, cuidava da roça, colhia as frutas e comercializava na feira. “Foi um período de muito trabalho e muita perseverança”.

Aos 27 anos, Toinho casou-se com Vanúsia Coelho de 16 anos. O processo do casamento teve que ser acelerado porque no ventre de Vanúsia estava Fábio Danilo, seu primogênito. E com amor e união nasceu depois Flávio Lisboa, o caçula.

Por muitos anos ele ia diversificando os negócios foi dono de restaurante, empresário de um cantor, entre outras atividades que não deram muito certo. Mas ele nunca largava a agricultura. Hoje ele continua sendo produtor e comercializa frutas no Vale do São Francisco. É engajado na igreja católica e participa de atividades religiosas juntamente com sua esposa.

Neste ano (2012), seu filho mais velho Fábio lhe deu uma grande satisfação, foi aprovado no vestibular de engenharia civil na Universidade Estadual de Pernambuco (UPE). “É uma grande felicidade ver que meu filho está no caminho certo, engenharia, é uma profissão que admiro bastante”.

Os desafios são encontrados a cada dia, mas o aventureiro Toinho se diz preparado para enfrentá-los com garra, luta, determinação e perseverança, desde que tenha saúde. Guerreiro de grande personalidade, paizão, extrovertido, humano são algumas de suas características.

             
            

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