terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Mata ciliar do Vale do São Francisco em alerta

Por  Mário Alves (T) e (F)


O meio ambiente passa por diversos problemas. No Vale do São Francisco podem ser identificado algumas dessas problemáticas, principalmente nas proximidades das orlas de Petrolina e Juazeiro. A mata ciliar é ameaçada constantemente pelas apropriações de terras, má utilização dos recursos naturais e desrespeitos ambientais, que provocam a erosão e assoreamento do Rio São Francisco. A exploração, desmatamento e poluição das margens do rio também se tornaram constante, o que preocupam ambientalistas e parte da sociedade. 



“A gente tem um rio que recebe muitos impactos ambientais em suas margens. O nosso temor é que ele viva um processo muito intenso de perda de oxigenação da água afetando a fauna e a flora,” explica a bióloga e conselheira petrolinense do meio ambiente, Mary Ann. 

Assim como os cílios protegem nossos olhos, a mata ciliar serve de proteção aos rios e córregos, retendo impurezas, reduzindo o assoreamento dos rios abrigo para a fauna e melhora a qualidade das águas. O conjunto de árvores, arbustos, capins, cipós e flores que crescem as margens dos rios, lagos e nascentes é considerada área de preservação permanente e sua proteção é obrigatória por lei. 

As expansões agrícolas e pecuárias da região sanfranciscana, assim como a ocupação desordenada do solo no campo e na zona urbana contribuíram para a redução da mata ciliar original levando à sua ausência parcial e total a algumas localidades próximas ao rio. A pesquisadora e doutora em Engenharia Agronômica, Maria Herbenia Santos coordena um projeto que busca a recuperação de áreas do rio. Com o nome de “Revegetação da Mata Ciliar da Margem Direita do Submédio São Francisco”, o projeto vem sendo conduzido com o objetivo de recompor a margem direita do Submédio São Francisco (no trecho que vai de Sobradinho a Curaçá, na Bahia) a fim de mitigar os impactos ambientais por meio da implantação de mudas de espécies com ocorrência na área. “Nosso projeto visa identificar espécies nativas com potencial para a recomposição da área em estudo, estudar métodos de propagação de espécies nativas, caracterizar a comunidade ribeirinha da margem direita, sensibilizar os produtores quanto à importância da vegetação da margem, fazer o diagnóstico socioambiental da área de estudo, promover ações de educação ambiental e implantar áreas referência,” enfatiza a pesquisadora, cujo projeto é financiado pelo Instituto Nacional de Gestão Avançada (INGA).

Para custear o estudo, foi disponibilizado um valor de R$ 50 mil, e com essa verba os pesquisadores investem em tecnologia direcionada para produção de mudas de plantas nativas em larga escala, além de terem construído na Universidade do Estado da Bahia ( Uneb) um viveiro bem equipado para o desenvolvimento dos estudos. 

Devido a todos os benefícios que a mata ciliar oferece, a sua recuperação passou a ser considerada área de preservação permanente e exigida por lei a mais de quarenta anos. Segundo o Código Florestal Brasileiro, lei número 4771/65, a mata ciliar deve-se manter intocada e caso esteja degradada deve-se prever uma imediata recuperação. Toda vegetação natural arbórea ou não presente ao longo das margens dos rios e ao redor de nascentes e reservatórios deve ser preservada. De acordo com o artigo 2° dessa lei, a largura da faixa de mata ciliar a ser preservada está relacionada com a largura do curso d’água. 

Em comunidades situadas às margens do Velho Chico, existem pessoas que não possuem uma educação ambiental adequada para lidar com a vegetação nativa, isso provoca um distanciamento entre os homens e as leis, pois na maioria das vezes os cidadãos acabam cometendo crimes ambientais sem terem a consciência da prática. “Chega a ser nosso dever instruir os ribeirinhos para que eles reconheçam o que é e porque é importante preservar e valorizar a mata ciliar”, ressalta a Doutora. 

A mata ciliar permite infiltração das águas das chuvas e armazenamento em seu lençol freático, garantindo a manutenção da quantidade de água em nascente e rios, protege as lavouras contra aparecimento de pragas e doenças aumentando a produtividade do solo. Além disso, é uma vegetação extremamente importante para os corredores de biodiversidade ajudando a conectar os remanescentes florestais e facilitando o fluxo de espécies da flora e da fauna nativa. O Jatobá, Juazeiro, Ingazeira, Marizeiro, Baraúna são exemplos de árvores que formam a paisagem da vegetação nativa do médio São Fancisco. 

A falta de esclarecimento da importância das florestas, bem como a forma incorreta de uso e exploração, aliadas às queimadas indiscriminadas e à mineração, têm gerado perdas de grande parte da biodiversidade. As matas ciliares têm sido desmatadas tanto para a extração madeireira e energética (lenha e carvão), como para dar lugar à implantação de pastagens e atividades agrícolas e, mais recentemente, para a expansão imobiliária. 

Ao navegar pelas águas do rio é perceptível que não há uma fiscalização por parte das autoridades públicas com a finalidade de preservar a vegetação. Os próprios ribeirinhos são na maioria dos casos os próprios causadores da degradação vegetativa. “Se os ribeirinhos cuidarem da mata ciliar como cuidam de suas casas, a gente vai ter uma melhor qualidade de vida, assim beneficiará principalmente o Rio São Francisco”, afirma Herbênia.


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